Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 27 de fevereiro de 2024

Alfred de Musset - Tristeza

Neste soneto, com elegíaco matiz pela cessação de uma conjuntura ditosa no passado – plena de vigor, de alegria, de amigos e até de uma confiança ufana em seu próprio valor –, há um giro de interpretação do poeta em relação às coisas deste mundo – agora um compósito de aparências, tão iludentes quanto enganosas.

 

Doravante, o recurso cinge-se à Verdade e aos seus eternos predicados, ainda que o falante deságue num vale de lágrimas ou depare com os tons cinzentos do desencanto: num misto de razão e fé, o poeta procura resgatar a plenitude de uma vida significativa, apropriando-se dos efeitos da tristura em que imergira, como um bem a dar sustento a um homem novo.

 

J.A.R. – H.C.

 

Alfred de Musset

(1810-1857)

 

Tristesse

 

J’ai perdu ma force et ma vie,

Et mes amis et ma gaieté;

J’ai perdu jusqu’à la fierté

Qui faisait croire à mon génie.

 

Quand j’ai connu la Vérité,

J’ai cru que c’était une amie;

Quand je l’ai comprise et sentie,

J’en étais déjà dégoûté:

 

Et pourtant elle est éternelle,

Et ceux qui se sont passés d’elle

Ici-bas ont tout ignore.

 

Dieu parle, il faut qu’on lui reponde,

Le seul bien qui me reste au monde

Est d’avoir quelquefois pleuré.

 

A Tristeza do Rei

(Henri Matisse: pintor francês)

 

Tristeza

 

Eu perdi minha vida e o alento,

E os amigos, e a intrepidez,

E até mesmo aquela altivez

Que me fez crer no meu talento.

 

Vi na Verdade, certa vez,

A amiga do meu pensamento;

Mas, ao senti-la, num momento

O seu encanto se desfez.

 

Entretanto, ela é eterna, e aqueles

Que a desprezaram – pobres deles! –

Ignoraram tudo talvez.

 

Por ela Deus se manifesta.

O único bem que ainda me resta

É ter chorado uma ou outra vez.

 

Referência:

 

MUSSET, Alfred de. Tristesse / Tristeza. Tradução de Guilherme de Almeida. In: ALMEIDA, Guilherme de (Seleção e Tradução). Poetas de França. Prefácio de Marcelo Tápia. 5. ed. São Paulo, SP: Babel, 2011. Em francês: p. 42; em português: p. 43.

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