Neste soneto, com elegíaco
matiz pela cessação de uma conjuntura ditosa no passado – plena de vigor, de alegria,
de amigos e até de uma confiança ufana em seu próprio valor –, há um giro de interpretação
do poeta em relação às coisas deste mundo – agora um compósito de aparências,
tão iludentes quanto enganosas.
Doravante, o recurso
cinge-se à Verdade e aos seus eternos predicados, ainda que o falante deságue num
vale de lágrimas ou depare com os tons cinzentos do desencanto: num misto de
razão e fé, o poeta procura resgatar a plenitude de uma vida significativa, apropriando-se
dos efeitos da tristura em que imergira, como um bem a dar sustento a um homem
novo.
J.A.R. – H.C.
Alfred de Musset
(1810-1857)
Tristesse
J’ai perdu ma force
et ma vie,
Et mes amis et ma
gaieté;
J’ai perdu jusqu’à la
fierté
Qui faisait croire à
mon génie.
Quand j’ai connu la Vérité,
J’ai cru que c’était
une amie;
Quand je l’ai
comprise et sentie,
J’en étais déjà
dégoûté:
Et pourtant elle est
éternelle,
Et ceux qui se sont
passés d’elle
Ici-bas ont tout ignore.
Dieu parle, il faut
qu’on lui reponde,
Le seul bien qui me
reste au monde
Est d’avoir
quelquefois pleuré.
A Tristeza do Rei
(Henri Matisse:
pintor francês)
Tristeza
Eu perdi minha vida e
o alento,
E os amigos, e a
intrepidez,
E até mesmo aquela
altivez
Que me fez crer no
meu talento.
Vi na Verdade, certa
vez,
A amiga do meu
pensamento;
Mas, ao senti-la, num
momento
O seu encanto se
desfez.
Entretanto, ela é
eterna, e aqueles
Que a desprezaram –
pobres deles! –
Ignoraram tudo
talvez.
Por ela Deus se
manifesta.
O único bem que ainda
me resta
É ter chorado uma ou
outra vez.
Referência:
MUSSET, Alfred de. Tristesse / Tristeza. Tradução de Guilherme de Almeida. In: ALMEIDA, Guilherme de (Seleção e Tradução). Poetas de França. Prefácio de Marcelo Tápia. 5. ed. São Paulo, SP: Babel, 2011. Em francês: p. 42; em português: p. 43.
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