Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2024

Abgar Renault - O poema conduz o poeta

O involuntário, o não deliberado no ato criador do poema, ou por outra, a poesia a conduzir a pena do poeta é o tema destes versos de Renault, dispostos, no caso, a provocar no leitor certa perplexidade, haja vista que se inverte a presumida relação empírica de causa e consequência, a presidir a maior parte dos fatos da vida.

 

Afirma a voz lírica que “a poesia tem vida própria”, sendo incerto o destino do poema que a encerra – de mais a mais, “como todos os destinos”: é que o súbito, o espontâneo, o repentino são alguns de seus atributos, tornando mais do que axiomático que o contingente também mora na casa da poesia – esse reduto de “pensamentos, cores, formas”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Abgar Renault

(1901-1995)

 

O poema conduz o poeta

 

A poesia acontece de repente,

tal como um grande amor ou uma rosa:

escorre uma palavra de uma pena

ou de um lápis azul, e outra palavra

a ela se casa, e súbito desperta

um novo som ou uma ideia nova,

que criam sobre os lábios e nos olhos

musicais pensamentos, cores, formas.

A poesia tem sua vida própria,

segue linhas de curvas insabidas,

e o fim de cada poema que escrevemos

é incerto como todos os destinos.

O poeta pensa que dirige o poema,

e é por ele, em raízes, dirigido;

a poesia é senhora de si mesma:

Vida – acontece e acaba de repente.

 

A poesia da vida

(Anastasia Mily: artista australiana)

 

Referência:

 

RENAULT, Abgar. O poema conduz o poeta. In: __________. Obra poética. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1990. p. 165.

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