Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Wellington Dantas - Sismo

Num grande abalo a revelar o “sem sentido” em que muitas vezes imersa, a voz lírica acabar por reconhecer que se autoinflige pesares, dores, lanhos que lhe afloram à pele a cada vez que fica a vagar por veredas que, não tendo um propósito claramente definido, acabam por levá-la à beira de um “abismo”, frente ao qual hesita em nele atirar-se ou não.

 

A rigor, s.m.j., as perplexidades do falante residem muito mais na casa do “ser” do que na do “estar”: ali – onde irrompe o “sismo”, em meio ao qual se surpreende alheio à máxima délfica do “Conhece-te a ti mesmo” –, é que o ente lírico há de encetar sua transformação psíquica, a “ressurreição” para uma vida nova, onde os desejos manifestos se integrem de forma saudável a elementos do inconsciente.

 

J.A.R. – H.C.

 

Wellington Dantas

(n. 1960)

 

Sismo

 

Por não saber

o que eu tenho sido

é que, às vezes, conspiro contra mim mesmo

– me firo.

 

Por não saber onde tenho andado

fico parado

à beira desse abismo

e, não raro, penso:

por que não me atiro?

 

Para onde tenho ido

quase não o tenho percebido.

De tal modo, que sempre assim me surpreendo:

sem sentido.

 

O abismo

(Marcos Terol: artista espanhol)

 

Referência:

 

DANTAS, Wellington. Sismo. In: SAVARY, Olga (Organização, seleção, notas e apresentação). Antologia da nova poesia brasileira. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Rio & Hipocampo, 1992. p. 325.

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