Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2024

Conrad Ferdinand Meyer - A Árvore Ferida

O ente lírico indigna-se com o fato de que alguns prováveis lenhadores tenham cortado galhos de uma árvore para obter madeira, deixando-a debilitada: apressa-se então a tratar as suas cicatrizes para que se restabeleça o quanto antes, visitando-a com frequência para se certificar de que tudo avança a contento.

 

Os versos progridem em paralelos quanto ao que ocorre com a árvore e o que sente o falante: ambos não perdem as esperanças ante os traumas e agravos da vida, confiando que ela tem o dom de regenerar, de restaurar o anterior estado de equilíbrio, deixando que as marcas das feridas continuem para sempre ostensivas, para reavivar as lembranças de nossos superados embates.

 

J.A.R. – H.C.

 

Conrad Ferdinand Meyer

(1825-1898)

 

Der Verwundete Baum

 

Sie haben mit dem Beile dich zerschnitten,

Die Frevler – hast du viel dabei gelitten?

Ich selber habe sorglich dich verbunden

Und traue: Junger Baum, du wirst gesunden!

Auch ich erlitt zu schier derselben Stunde

Von schärferm Messer eine tiefre Wunde.

Zu untersuchen komm ich deine täglich,

Und meine fühl ich brennen unerträglich.

Du saugest gierig ein die Kraft der Erde,

Mir ist, als ob auch ich durchrieselt werde!

Der frische Saft quillt aus zerschnittner Rinde

Heilsam. Mir ist, als ob auch ichs empfinde!

Indem ich deine sich erfrischen fühle,

Ist mir, als ob sich meine Wunde kühle!

Natur beginnt zu wirken und zu weben,

Ich traue: Beiden geht es nicht ans Leben!

Wie viele, so verwundet, welkten, starben!

Wir beide prahlen noch mit unsern Narben!

 

Estudo de uma árvore abatida

(Friedrich Carl von Scheidlin: pintor austríaco)

 

A Árvore Ferida

 

Cortaram-te com o machado,

Os perversos – sofreste muito com isso?

Eu mesmo cuidadosamente te enfaixei.

Confia: jovem árvore, haverás de te recuperar!

Quase à mesma hora também sofri

Uma ferida profunda da mais afiada lâmina.

Diariamente venho examinar o teu lanho

E logo do meu sinto o arder excruciante.

Sugas com avidez a energia da terra,

E é como se também ela me perpassasse!

A seiva fresca brota do córtex golpeado,

Curativamente. Sinto por igual esse alento!

Ao perceber que a tua ferida se revigora,

Sinto como se a minha esmorecesse!

A natureza começa a laborar e a tecer,

Eu confio: a vida nos poupa de preocupações!

Quantos, tão feridos, murcharam, morreram!

As nossas cicatrizes nós ainda as ostentamos!

 

Referência:

 

MEYER, Conrad Ferdinand. Der verwundete baum. In: __________. Gedichte. Fünfte vermehrte auflage. Leipzig, DE: Verlag von H. Haeijer, 1892. s. 50.

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