O falante,
identificado como o parceiro numa relação amorosa, levanta um quê de indeterminação
no que pertine ao lastro de tempo em que os amantes estão a conversar – há
tanto tempo, presume-se, desde que se conheceram –, mas a impressão que
remanesce é a de que muito ainda ficou por falar.
Por todos os anos que
transcorreram desde então, em uma vida de partilha, sucederam-se os diálogos,
vida de regra, num tom angustioso: o que não encontrou respostas; o que pervagou
na noite nos ensejos em que as indagações diziam respeito à luz do dia; o que,
de algum modo, restou não verbalizado – será, por fim, arrastado à insubsistência
no decurso dos éons.
J.A.R. – H.C.
Pedro Salinas
(1891-1951)
¿Hablamos, desde
cuándo?
¿Hablamos, desde
cuándo?
¿Quién empezó? No sé.
Los días, mis
preguntas;
oscuras, anchas,
vagas
tus respuestas: las
noches.
Juntándose una a otra
forman el mundo, el
tiempo
para ti y para mí.
Mi preguntar
hundiéndose
con la luz en la
nada,
callado,
para que tú respondas
con estrellas
equívocas;
luego,
reciennaciéndose
con el alba,
asombroso
de novedad, de ansia
de preguntar lo mismo
que preguntaba ayer,
que respondió la
noche
a medias, estrellada.
Los años y la vida,
¡qué diálogo
angustiado!
Y sin embargo,
por decir casi todo.
Y cuando nos separen
y ya no nos oigamos,
te diré todavía:
“¡Qué pronto!
¡Tanto que hablar, y
tanto
que nos quedaba aún!”
Casal aos abraços
(Louis Toffoli: artista
francês)
Desde quando nos
falamos?
Desde quando nos
falamos?
Quem começou? Não
sei.
São dias, o que
pergunto;
escuras, ocas e
vagas,
tuas respostas – são
noites.
Uma à outra se
juntando
vão formar o mundo, o
tempo
para ti e para mim.
O que pergunto,
esvaindo-se
com a luz dentro do
nada,
silencioso,
para que só me
respondas
com equívocas
estrelas;
mas já logo
renascendo
com a madrugada, ansioso
de novidade, e já
doido
por perguntar tudo
aquilo
que ontem mesmo
perguntou
e que a noite
respondeu
pela metade,
estrelada.
Ah! os anos e a vida,
que diálogo de
angústias!
E apesar disso,
quase tudo por dizer.
E quando nos
separarem,
já mesmo sem nos
ouvirmos,
ainda assim te direi:
“Tão cedo!
E tanto, tanto que
ainda
nos faltava por
falar!”
Referência:
SALINAS, Pedro. ¿Hablamos,
desde cuándo? / Desde quando nos falamos. Tradução de Ivo Barroso. In: BARROSO,
Ivo (Organização e Tradução). O torso e o gato: o melhor da poesia
universal. Prefácio de Antonio Houaiss. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1991. Em
espanhol: p. 176; em português: p. 177.
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