Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 3 de abril de 2023

Pedro Salinas - Desde quando nos falamos?

O falante, identificado como o parceiro numa relação amorosa, levanta um quê de indeterminação no que pertine ao lastro de tempo em que os amantes estão a conversar – há tanto tempo, presume-se, desde que se conheceram –, mas a impressão que remanesce é a de que muito ainda ficou por falar.

 

Por todos os anos que transcorreram desde então, em uma vida de partilha, sucederam-se os diálogos, vida de regra, num tom angustioso: o que não encontrou respostas; o que pervagou na noite nos ensejos em que as indagações diziam respeito à luz do dia; o que, de algum modo, restou não verbalizado – será, por fim, arrastado à insubsistência no decurso dos éons.

 

J.A.R. – H.C.

 

Pedro Salinas

(1891-1951)

 

¿Hablamos, desde cuándo?

 

¿Hablamos, desde cuándo?

¿Quién empezó? No sé.

Los días, mis preguntas;

oscuras, anchas, vagas

tus respuestas: las noches.

Juntándose una a otra

forman el mundo, el tiempo

para ti y para mí.

Mi preguntar hundiéndose

con la luz en la nada,

callado,

para que tú respondas

con estrellas equívocas;

luego, reciennaciéndose

con el alba, asombroso

de novedad, de ansia

de preguntar lo mismo

que preguntaba ayer,

que respondió la noche

a medias, estrellada.

Los años y la vida,

¡qué diálogo angustiado!

 

Y sin embargo,

por decir casi todo.

Y cuando nos separen

y ya no nos oigamos,

te diré todavía:

“¡Qué pronto!

¡Tanto que hablar, y tanto

que nos quedaba aún!”

 

Casal aos abraços

(Louis Toffoli: artista francês)

 

Desde quando nos falamos?

 

Desde quando nos falamos?

Quem começou? Não sei.

São dias, o que pergunto;

escuras, ocas e vagas,

tuas respostas – são noites.

Uma à outra se juntando

vão formar o mundo, o tempo

para ti e para mim.

O que pergunto, esvaindo-se

com a luz dentro do nada,

silencioso,

para que só me respondas

com equívocas estrelas;

mas já logo renascendo

com a madrugada, ansioso

de novidade, e já doido

por perguntar tudo aquilo

que ontem mesmo perguntou

e que a noite respondeu

pela metade, estrelada.

Ah! os anos e a vida,

que diálogo de angústias!

 

E apesar disso,

quase tudo por dizer.

E quando nos separarem,

já mesmo sem nos ouvirmos,

ainda assim te direi:

“Tão cedo!

E tanto, tanto que ainda

nos faltava por falar!”

 

Referência:

 

SALINAS, Pedro. ¿Hablamos, desde cuándo? / Desde quando nos falamos. Tradução de Ivo Barroso. In: BARROSO, Ivo (Organização e Tradução). O torso e o gato: o melhor da poesia universal. Prefácio de Antonio Houaiss. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1991. Em espanhol: p. 176; em português: p. 177.

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