Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 12 de abril de 2023

Lucian Blaga - A luz de ontem

Com uma anáfora bem definida no início de cada terceto, o poeta denota o tempo de retorno ao passado como a procura de um “céu perdido”, no qual uma luz, a sugerir certa força de considerável notabilidade, teria dominado grande parte do percurso do falante, mas que, depois de tantos anos, se apresenta agora já num estágio remanente de declínio.

 

Digo melhor: a luz de outrora privou-se de sua essência, de seu pendor para a gênese, enquanto símbolo da matriz original, deixando o poeta com o sabor de nostalgia nos lábios, envolto num manto de torpor, sedento ainda por reencontrar o elo capaz de recompor o seu próprio sentido de completude perante a vida.

 

J.A.R. – H.C.

 

Lucian Blaga

(1895-1961)

 

Lumina de ieri

 

Caut, nu ştiu ce caut. Caut

un cer trecut, ajunul apus. Cât de-aplecată

e fruntea menită-nălţărilor altădată!

 

Caut, nu ştiu ce caut. Caut

aurore ce-au fost, tâşnitoare, aprinse

fântâni – azi cu ape legate şi-nvinse.

 

Caut, nu ştiu ce caut. Caut

o oră mare rămasă în mine fără făptură

ca pe-un ulcior mort o urmă de gură.

 

Caut, nu ştiu ce caut. Subt stele de ieri,

subt trecutele, caut

lumina stinsă pe care-o tot laud.

 

(1933)

 

Jó zombado por sua esposa

(Georges de La Tour: pintor francês)

 

A luz de ontem

 

Procuro, não sei o que procuro. Procuro

um céu passado, a véspera extinta. Meu rosto

vai tão baixo, que antes nos céus ia posto!

 

Procuro, não sei o que procuro. Procuro

auroras idas, que jorravam, inflamadas

fontes – hoje com águas presas derrotadas.

 

Procuro, não sei o que procuro. Procuro

a grande hora que em mim restou sem figura

como em um cântaro morto um fim de abertura.

 

Procuro, não sei o que procuro. Sob estrelas de ontem,

sob as que passaram, procuro

a luz apagada que ainda enalteço.

 

(1933)

 

Referência:

 

BLAGA, Lucian. Lumina de ieri / A luz de ontem. Tradução de Caetano Waldrigues Galindo. In: __________. A grande travessia. Seleção, tradução e introdução de Caetano Waldrigues Galindo. Brasília, DF: Editora da UnB, 2005. Em romeno: p. 80; em português: p. 81. (Coleção ‘Poetas do Mundo’) 

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