Com uma anáfora bem
definida no início de cada terceto, o poeta denota o tempo de retorno ao
passado como a procura de um “céu perdido”, no qual uma luz, a sugerir certa
força de considerável notabilidade, teria dominado grande parte do percurso do
falante, mas que, depois de tantos anos, se apresenta agora já num estágio
remanente de declínio.
Digo melhor: a luz de
outrora privou-se de sua essência, de seu pendor para a gênese, enquanto
símbolo da matriz original, deixando o poeta com o sabor de nostalgia nos
lábios, envolto num manto de torpor, sedento ainda por reencontrar o elo capaz
de recompor o seu próprio sentido de completude perante a vida.
J.A.R. – H.C.
Lucian Blaga
(1895-1961)
Lumina de ieri
Caut, nu ştiu ce
caut. Caut
un cer trecut, ajunul
apus. Cât de-aplecată
e fruntea menită-nălţărilor altădată!
Caut, nu ştiu ce
caut. Caut
aurore ce-au fost,
tâşnitoare, aprinse
fântâni – azi cu ape
legate şi-nvinse.
Caut, nu ştiu ce
caut. Caut
o oră mare rămasă în mine fără făptură
ca pe-un ulcior mort
o urmă de gură.
Caut, nu ştiu ce
caut. Subt stele de ieri,
subt trecutele, caut
lumina stinsă pe care-o tot laud.
(1933)
Jó zombado por sua
esposa
(Georges de La Tour: pintor
francês)
A luz de ontem
Procuro, não sei o
que procuro. Procuro
um céu passado, a
véspera extinta. Meu rosto
vai tão baixo, que
antes nos céus ia posto!
Procuro, não sei o
que procuro. Procuro
auroras idas, que
jorravam, inflamadas
fontes – hoje com
águas presas derrotadas.
Procuro, não sei o
que procuro. Procuro
a grande hora que em
mim restou sem figura
como em um cântaro
morto um fim de abertura.
Procuro, não sei o
que procuro. Sob estrelas de ontem,
sob as que passaram,
procuro
a luz apagada que
ainda enalteço.
(1933)
Referência:
BLAGA, Lucian. Lumina de ieri / A luz de ontem. Tradução de Caetano Waldrigues Galindo. In: __________. A grande travessia. Seleção, tradução e introdução de Caetano Waldrigues Galindo. Brasília, DF: Editora da UnB, 2005. Em romeno: p. 80; em português: p. 81. (Coleção ‘Poetas do Mundo’)
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