Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 21 de abril de 2023

Charles Bukowski - os melhores homens são mais fortes sozinhos

Bukowski se compraz em ficar sozinho para levar à frente a sua tarefa de escritor e de poeta, deixando a sua companheira completamente sozinha, a reclamar de sua ausência: ele aprecia a luta contra as teclas da máquina de escrever em busca da perfeição do verso, tão “puro” quanto “bonito”.

 

Nota-se que, para Bukowski, a escrita representou sempre algo mais do que qualquer outra coisa, um modo de vida e de sustento bem menos penoso do que a enfadonha labuta em fábricas, para onde não pensa retornar, tanto mais em razão da idade agora já mais avançada.

 

J.A.R. – H.C.

 

Charles Bukowski

(1920-1994)

 

the best men are strongest alone

 

most of the time while a man is trying to

type

some woman is running in and out

she wants this

she wants that.

 

most of the time while a man is typing

there are simultaneous arguments with some woman.

 

it’s not easy to argue with some woman and type

at the same time.

sometimes I think some women are jealous of

the typewriter.

 

the typewriter earns them restaurant meals,

a decent car, clothes, shoes.

but they are jealous of the typewriter.

“when you go upstairs to type, I am all

alone”, they say.

 

when I go upstairs to type I am alone

too.

there are times when there wasn’t any

upstairs.

there were times when it was one room

with the toilet down the

hall.

there were times when there wasn’t a

room or a typer, just a park

bench.

 

“that typewriter is your crutch”,

they say wisely.

 

I’m too old to go back to the factory,

the factory would not want me

now.

 

thankfully

this machine has been as faithful to me

as any woman I have ever known.

 

and tonight is a special night.

I am alone again

just like when I started.

 

my fingers rattle the keys.

the war has never ended.

I like this fight.

 

and it dawns on me now that

there is nothing so beautiful and

pure and as perfect as the well

written line.

 

Escritor revisando sua folha

de trabalho datilografada

(Autoria não identificada)

 

os melhores homens são mais fortes sozinhos

 

na maior parte do tempo em que um homem está tentando

escrever

alguma mulher entra e sai

ela quer isso

ela quer aquilo.

 

na maior parte do tempo em que um homem está escrevendo

ocorrem discussões simultâneas com alguma mulher.

 

não é fácil discutir com uma mulher e escrever

ao mesmo tempo.

às vezes eu acho que as mulheres têm ciúmes da

máquina de escrever.

 

a máquina de escrever dá a elas refeições em restaurantes,

um carro decente, roupas, sapatos.

mas elas têm ciúmes da máquina de escrever.

“quando você vai para o andar de cima para escrever, eu fico

completamente

sozinha”, elas dizem.

 

quando eu vou lá pra cima para escrever eu fico sozinho

também.

houve vezes em que não havia

um andar de cima.

houve vezes em que havia um quarto

com o banheiro no fim do

corredor.

houve vezes em que não havia um

quarto ou uma máquina de escrever, apenas um

banco de praça.

 

“aquela máquina de escrever é a sua muleta”,

elas dizem sabiamente.

 

estou velho demais para voltar para a fábrica,

a fábrica não iria me querer

agora.

 

felizmente

esta máquina tem sido tão fiel a mim

quanto qualquer mulher que eu tenha conhecido.

 

e hoje a noite é especial.

estou sozinho de novo

exatamente como quando comecei.

 

meus dedos batem nas teclas.

a guerra nunca acabou.

eu gosto dessa luta.

 

e agora fica claro para mim que

não há nada tão bonito e

puro e tão perfeito quanto o

verso bem escrito.

 

Referências:

 

Em Inglês

 

BUKOWSKI, Charles. the best men are strongest alone. In: __________. open all night: news poems (the soulless life). New York, NY: HarperCollins, 2007.

p. 241-242. (‘HarperCollins e-books’)

 

Em Português

 

BUKOWSKI, Charles. os melhores homens são mais fortes sozinhos. Tradução de Fabio Soares e Gerciana Espíndola. In: __________. Vida desalmada. Florianópolis, SC: Spectro, 2006. p. 49-50.

Nenhum comentário:

Postar um comentário