Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 22 de abril de 2023

Octavio Paz - A casa giratória

Dedicado a Ivar Ivask (1927-1992) e Astrid Ivask (1926-2015) – casal de poetas letões que imigrou da antiga república soviética para a região de Oklahoma (USA), mais propriamente para a cidade de Norman –, este poema do autor e diplomata mexicano denota as suas relações com os dois consortes.

 

Com efeito, tais versos foram originariamente publicados, no verão de 1983, na cosmopolita revista “World Literature Today”, para a qual muito o casal letão contribuiu. Os elementos imagéticos consignados por Paz assomam-nos como se extraídos fossem de telas pictóricas de matiz surrealista; no entanto, como Ivar e Astrid eram poetas, o mais provável é que tudo não passe de referências a versos de ambos, com os quais, quiçá, o mexicano teria entrado em direto contato.

 

J.A.R. – H.C.

 

Octavio Paz

(1914-1998)

 

La casa giratoria

 

A Ivar y Astrid

 

Hay una casa de madera

en la llanura de Oklahoma.

Cada noche la casa se vuelve

una isla del mar Báltico,

piedra caída del cielo de la fábula.

Pulida por las miradas de Astrid,

encendida por la voz de Ivar,

la piedra gira lentamente en la sombra:

es un girasol y arde.

 Un gato,

que viene de Saturno,

atraviesa la pared y desaparece

entre las páginas de un libro.

La hierba se ha vuelto noche,

la noche se ha vuelto arena,

la arena se ha vuelto agua.

 Entonces

Ivar y Astrid levantan arquitecturas

– cubos de ecos, formas sin peso –

que a veces se llaman poemas,

otras dibujos, otras conversaciones

con amigos de Málaga, México

y otros planetas.

Esas formas

caminan y no tienen pies,

miran y no tienen ojos,

hablan y no tienen boca.

El girasol

gira y no se mueve,

 la isla

se enciende y se apaga,

   la piedra

florece,

la noche se cierra,

el cielo se abre.

 El alba

moja los párpados de llano.

 

De: “La mano abierta”, en

“Árbol adentro” (1976-1988)

 

A casa giratória

(Paul Klee: pintor suíço-alemão)

 

A casa giratória

 

A Ivar e Astrid

 

Há uma casa de madeira

na planície de Oklahoma.

Toda noite a casa se torna

uma ilha do mar Báltico,

pedra caída do céu da fábula.

Polida pelos olhares de Astrid,

iluminada pela voz de Ivar,

a pedra gira lentamente na sombra:

é um girassol e arde.

 Um gato,

oriundo de Saturno,

atravessa a parede e desaparece

entre as páginas de um livro.

A relva tornou-se noite,

a noite tornou-se areia,

a areia tornou-se água.

  Logo depois,

Ivar e Astrid erigem arquiteturas

– cubos de ecos, formas sem peso –

que às vezes se chamam poemas,

outras desenhos, outras conversas

com amigos de Málaga, México

e outros planetas.

 Essas formas

caminham e não têm pés,

veem e não têm olhos,

falam e não têm boca.

O girassol

gira e não se move,

 a ilha

se ilumina e se apaga,

  a pedra

floresce,

 a noite se fecha,

o céu se abre.

 A alvorada

molha as pálpebras da planície.

 

De: “A mão aberta”, em

“Árvore por dentro” (1976-1988)

 

Ivar Astrid Ivask

 

Referência:

 

PAZ, Octavio. La casa giratoria. In: __________. Obras completas. Obra poética II: 1969-1998. Tomo XII. Edición del autor. 1. ed. México, DF: Fondo de Cultura Económica, 2004. p. 125-126. (Letras Mexicanas)

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