Dedicado a Ivar Ivask
(1927-1992) e Astrid Ivask (1926-2015) – casal de poetas letões que imigrou da
antiga república soviética para a região de Oklahoma (USA), mais propriamente
para a cidade de Norman –, este poema do autor e diplomata mexicano denota as
suas relações com os dois consortes.
Com efeito, tais
versos foram originariamente publicados, no verão de 1983, na cosmopolita
revista “World Literature Today”, para a qual muito
o casal letão contribuiu. Os elementos imagéticos consignados por Paz assomam-nos
como se extraídos fossem de telas pictóricas de matiz surrealista; no entanto,
como Ivar e Astrid eram poetas, o mais provável é que tudo não passe de
referências a versos de ambos, com os quais, quiçá, o mexicano teria entrado em
direto contato.
J.A.R. – H.C.
Octavio Paz
(1914-1998)
La casa giratoria
A Ivar y Astrid
Hay una casa de
madera
en la llanura de
Oklahoma.
Cada noche la casa se
vuelve
una isla del mar
Báltico,
piedra caída del
cielo de la fábula.
Pulida por las
miradas de Astrid,
encendida por la voz
de Ivar,
la piedra gira
lentamente en la sombra:
es un girasol y arde.
Un gato,
que viene de Saturno,
atraviesa la pared y
desaparece
entre las páginas de
un libro.
La hierba se ha
vuelto noche,
la noche se ha vuelto
arena,
la arena se ha vuelto
agua.
Entonces
Ivar y Astrid
levantan arquitecturas
– cubos de ecos,
formas sin peso –
que a veces se llaman
poemas,
otras dibujos, otras
conversaciones
con amigos de Málaga,
México
y otros planetas.
Esas formas
caminan y no tienen
pies,
miran y no tienen
ojos,
hablan y no tienen
boca.
El girasol
gira y no se mueve,
la isla
se enciende y se
apaga,
la piedra
florece,
la noche se cierra,
el cielo se abre.
El alba
moja los párpados de
llano.
De: “La mano
abierta”, en
“Árbol adentro” (1976-1988)
A casa giratória
(Paul Klee: pintor
suíço-alemão)
A casa giratória
A Ivar e Astrid
Há uma casa de
madeira
na planície de
Oklahoma.
Toda noite a casa se torna
uma ilha do mar
Báltico,
pedra caída do céu da
fábula.
Polida pelos olhares
de Astrid,
iluminada pela voz de
Ivar,
a pedra gira
lentamente na sombra:
é um girassol e arde.
Um gato,
oriundo de Saturno,
atravessa a parede e
desaparece
entre as páginas de
um livro.
A relva tornou-se
noite,
a noite tornou-se
areia,
a areia tornou-se
água.
Logo depois,
Ivar e Astrid erigem arquiteturas
– cubos de ecos,
formas sem peso –
que às vezes se
chamam poemas,
outras desenhos,
outras conversas
com amigos de Málaga,
México
e outros planetas.
Essas formas
caminham e não têm
pés,
veem e não têm olhos,
falam e não têm boca.
O girassol
gira e não se move,
a ilha
se ilumina e se
apaga,
a pedra
floresce,
a noite se fecha,
o céu se abre.
A alvorada
molha as pálpebras da
planície.
De: “A mão aberta”, em
“Árvore por dentro” (1976-1988)
Ivar e Astrid Ivask
Referência:
PAZ, Octavio. La casa
giratoria. In: __________. Obras completas. Obra poética II: 1969-1998.
Tomo XII. Edición del autor. 1. ed. México, DF: Fondo de Cultura Económica,
2004. p. 125-126. (Letras Mexicanas)
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