Três quintilhas para
fixar em palavras o que seja a poesia, essa forma de se estar junto da arte,
embora sua assimilação seja um caso de se saber apreciar as suas mágicas
potencialidades, entrando em sintonia com o êxtase de beleza vislumbrado pelo
poeta.
O fato é que a poesia
nos desloca para outras margens, até mesmo fora das que costumamos palmilhar no
domínio do espaço e do tempo, tornando mais enriquecidas as nossas vidas
interiores.
“Sem regras feita de
normas”, esse pasmo latejante flutua sobre as ondas dentro de uma botelha
lançada ao mar, à espera de um portento: é que ela logo se converte numa ostra,
em cujo cerne se pode deduzir a mais sublime pérola!!
J.A.R. – H.C.
António Salvado
(n. 1936)
A Poesia
Difícil, estreita
passagem,
força quente
perscrutada,
corpo de névoa, de
imagem,
com sulcos de
tatuagem,
voz absoluta
escutada...
Destino de aranha,
tece
com fios vários da
vida
alegria se amanhece
ou chora se a luz fenece
pela noite
perseguida.
Intimidade exterior,
pureza de impuras
formas,
conhecimento e amor,
água límpida,
estertor,
Em: “Difícil
Passagem” (1962)
Teia criativa
(Jessica Shilling: pintora
norte-americana)
Referência:
SALVADO, António. A
poesia. In: __________. Obra I (1955-1975). Coimbra, PT: A Mar Arte,
1997. p. 68.
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