O final do verão é fatal
para alguns animais – no caso, os artrópodes que o poeta menciona, a saber,
insetos, escorpião, aranha –, e mesmo os astros se comportam de modo a refletir
algo pouco estável no firmamento, a exemplo de “estrelas de caudas venenosas”.
Há um certo sentido
funesto pressuposto pelo falante nesse findar de estação, muito bem demarcado
pelos dois últimos tercetos do poema. Aquilo que já atingiu o seu apogeu
pressagia agora o início do fim, com a colheita dos frutos das videiras: o sujeito
lírico há de se satisfazer com as pelotas de sal preparadas pelos guardiões das vinhas.
J.A.R. – H.C.
Paolo Volponi
(1924-1994)
La fine dell’estate
Muoiono stasera
gl’insetti che
recavano lampade
alle mie chiare notti
lungo il fiume;
ahimè che li uccide
in agonia segreta tra
il fogliame
il primo ritornello
di vento.
Cosi lo scorpione
rubino
che il tetano
d’agosto
rizzava sulla pietra
è un gioiello
appannato
e il grillo porta la
notte
d’innumeri stelle
graffita
al meriggio della
cicala.
La fine dell’estate
mi sorprende antico;
come la roccia
immobile
sopporto il trapasso,
essa ch’altro non
muta
che un occhio di
muschio
e un’ombra di colore.
Sul mio sguardo
fisso nella corrente
come per uno scoglio
l’acqua s’increspa;
(vi dondola un ragno
l’ultime acrobazie).
Ogni istante in
silenzio
nel cielo si completa
un astro dalla coda
velenosa.
Ormai i guardiani
delle vigne
preparano per me
i loro colpi di sale.
Fim do verão
(Karen Clark: pintora
norte-americana)
O fim do verão
Morrem esta noite
os insetos que
traziam lâmpadas
a minhas noites
claras
ao longo do rio;
que pena, mata-os
em secreta agonia,
entre a folhagem,
o primeiro estribilho
do vento.
Assim, o escorpião escarlate,
que o espasmo de
agosto
guindou sobre a pedra,
é uma joia despolida,
e o grilo traz a
noite
de inumeráveis
estrelas grafitadas
ao meio-dia da
cigarra.
O fim do verão
me surpreende antigo;
como a rocha imóvel
suporta o trespasse,
que não muda nada
mais
que um broto de musgo
e um tom de cor.
Em meu olhar,
fixo na corrente
como por um recife,
a água se encrespa;
(uma aranha remexe-se
ali
em suas últimas
acrobacias).
A cada instante, em
silêncio,
no céu se completa
uma estrela da cauda
venenosa.
Agora os guardiões
dos vinhedos
preparam para mim
as suas pelotas de
sal.
Referência:
VOLPONI, Paolo. La fine dell’estate. In: SMITH, Lawrence R. (Editor and Translator). The new italian poetry: 1945 to the present. A Bilingual Anthology: Italian x English. Berkeley, CA: University of California Press, 1981. p. 158.
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