A voz lírica explica
ao leitor porque se detém a escrever, mais explicitamente, para entrar em “comunhão”
com o seu público alvo, oferecendo-lhe os “frutos” de suas criações, uma visão
da mansuetude de seus “escaninhos” espirituais, tornando-se assim “completa”
por meio dessa abertura ao outro, desse zelo em se entregar ao labor poético.
Assim, a falante
preenche o que lhe falta, atingindo o sentido maior de ser uma metafórica
árvore, não “só raiz e caule”, mas também ramos com frutos e nichos de sombra
como abrigo, para, desse modo, alcançar afinidades na harmonia da troca, no
poder de multiplicar, de reproduzir estados líricos plenos de encanto, de beleza,
de graça.
J.A.R. – H.C.
Olga Savary
(1933-2020)
Comunhão
Por que escrevo?
Porque sou
pouco e mínima
embora vária,
porque não me basto,
escrevo
para compensar
a falta,
porque não quero ser
só raiz e haste
e preciso do outro
para dar sombra
e fruto.
Conexões
(Paul Covaci: artista
romeno)
Referência:
SAVARY, Olga.
Comunhão. In: HENRIQUES NETO, Afonso (Seleção e Prefácio). Roteiro da poesia
brasileira: anos 70. São Paulo, SP: Global, 2009. p. 31. (Coleção ‘Roteiro
da poesia brasileira’)
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