Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 25 de abril de 2023

Fred Cogswell - O Fim da Poesia

De início, neste poema, o autor canadense enuncia algo que se assemelha ao introito do Evangelho de João, a assegurar a força que tem a palavra – ou o verbo – para engendrar mundos. Em seguida, coloca na boca do homem primordial o recurso estilístico maior empregado pelos poetas em suas criações, a saber, a metáfora.

 

Então, dirigindo à sua musa algumas dessas figuradas asserções – digamos assim –, o primeiro poeta produziu efeitos contrários aos que tencionava, ou seja, de simplesmente entoar loas à diva: ela tornou-se cega e entrou em desatino. Resultado: o poeta evadiu-se dessa realidade, em busca de uma outra “menos rigorosa”, onde “os seus filhos ainda cantam”, afugentando-se de vez da poesia.

 

Poder-se-ia, de certo modo, associar a lógica do poema às situações em que o sentido de um determinado poema gera interpretações as mais divergentes, quer pelas metáforas empregadas, quer pelo valor polissêmico de determinadas palavras, quer pelos aspectos topográficos do poema, quer ainda pelo efeito produzido por outras figuras de linguagem sobre o contexto da lírica em exame. Decerto: as palavras geram mundos, mas nem sempre de acordo com os propósitos de quem as emite! (rs)

 

J.A.R. – H.C.

 

Fred Cogswell

(1917-2004)

 

The End of Poetry

 

Forever always is the Word

and the Word is servant unto men

so that whatsoever a man utters

that will be.

 

In the morning of the world

the first poet saw the first woman

 

“Your eyes,” he said, “are emeralds...”

(as he spoke she was stricken blind)

 

“...and your lips are ripe red plums.”

(she screamed as squishing juice

ran sweetly down her chin.)

 

The poet saw and fled

to a universe

of less rigorous reality

where still his children sing.

 

O Poeta e sua Musa

(Alexandre Cabanel: pintor francês)

 

O Fim da Poesia

 

Perdurável para sempre é a Palavra

e a Palavra é serva dos homens

de modo que o que quer que o homem exprima

assim o será.

 

Na manhã do mundo

o primeiro poeta viu a primeira mulher

 

“Teus olhos”, disse ele, “são esmeraldas...”

(enquanto falava, ela perdeu a visão)

 

“...e teus lábios são maduras ameixas vermelhas.”

(ela vociferou, enquanto, aos jorros, o sumo

escorria suavemente pelo seu queixo abaixo.)

 

O poeta viu e fugiu

para um universo

de realidade menos rigorosa

onde ainda cantam os seus filhos.

 

Referência:

 

COGSWELL, Fred. The end of poetry. In: __________. The house without a door. Fredericton, CA: Fiddlehead Poetry Books, 1973. p. 13.

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