De início, neste
poema, o autor canadense enuncia algo que se assemelha ao introito do Evangelho
de João, a assegurar a força que tem a palavra – ou o verbo – para engendrar
mundos. Em seguida, coloca na boca do homem primordial o recurso estilístico
maior empregado pelos poetas em suas criações, a saber, a metáfora.
Então, dirigindo à
sua musa algumas dessas figuradas asserções – digamos assim –, o primeiro poeta produziu
efeitos contrários aos que tencionava, ou seja, de simplesmente entoar loas à diva:
ela tornou-se cega e entrou em desatino. Resultado: o poeta evadiu-se dessa
realidade, em busca de uma outra “menos rigorosa”, onde “os seus filhos ainda
cantam”, afugentando-se de vez da poesia.
Poder-se-ia, de certo
modo, associar a lógica do poema às situações em que o sentido de um
determinado poema gera interpretações as mais divergentes, quer pelas metáforas
empregadas, quer pelo valor polissêmico de determinadas palavras, quer pelos
aspectos topográficos do poema, quer ainda pelo efeito produzido por outras
figuras de linguagem sobre o contexto da lírica em exame. Decerto: as palavras geram
mundos, mas nem sempre de acordo com os propósitos de quem as emite! (rs)
J.A.R. – H.C.
Fred Cogswell
(1917-2004)
The End of Poetry
Forever always is the
Word
and the Word is
servant unto men
so that whatsoever a
man utters
that will be.
In the morning of the
world
the first poet saw
the first woman
“Your eyes,” he said,
“are emeralds...”
(as he spoke she was
stricken blind)
“...and your lips are
ripe red plums.”
(she screamed as
squishing juice
ran sweetly down her
chin.)
The poet saw and fled
to a universe
of less rigorous
reality
where still his
children sing.
O Poeta e sua Musa
(Alexandre Cabanel:
pintor francês)
O Fim da Poesia
Perdurável para
sempre é a Palavra
e a Palavra é serva
dos homens
de modo que o que
quer que o homem exprima
assim o será.
Na manhã do mundo
o primeiro poeta viu
a primeira mulher
“Teus olhos”, disse
ele, “são esmeraldas...”
(enquanto falava, ela
perdeu a visão)
“...e teus lábios são
maduras ameixas vermelhas.”
(ela vociferou, enquanto,
aos jorros, o sumo
escorria suavemente
pelo seu queixo abaixo.)
O poeta viu e fugiu
para um universo
de realidade menos
rigorosa
onde ainda cantam os
seus filhos.
Referência:
COGSWELL, Fred. The
end of poetry. In: __________. The house without a door. Fredericton,
CA: Fiddlehead Poetry Books, 1973. p. 13.
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