Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 27 de abril de 2023

Joan Reventós i Carner - A inútil procura

O poeta se encontra desorientado ante os questionamentos maiores de “nossa vã filosofia”: “de onde venho / o que sou / para onde vou?”, perguntas que, por si sós, já demonstram a efemeridade de toda experiência humana sobre a terra, digam o que digam os que sustentam haver uma outra existência pós-morte.

 

Nas palavras do falante, avulta o ceticismo impregnado nos versos da derradeira estrofe, atribuindo aos humanos a prerrogativa de negar “totalmente a morte”, crendo-se detentores da sorte maior de usufruir uma outra vida depois de ultrapassados os umbrais do passamento, sorte que a nenhum outro animal teria sido concedida pelos deuses.

 

J.A.R. – H.C.

 

Joan Reventós i Carner

(1927-2004)

 

La inútil recerca

 

D’on vinc? Què sóc? On vaig?

És aquesta la terrible

fosca transcendent qüestió.

Quan travessem el llindar,

morim, i un cop som morts,

ningú sap què ens pot passar.

 

Inconcebible, obscur,

impenetrable secret,

veritable problema

que a tots els homes fa

infants esmaperduts

afrontant la pròpia sort.

 

L’antic llibre de la mort

dels egipcis, bé ens diu,

amb austera prudència:

“Deixeu, doncs, per a la fi

llunyana dels éssers vius,

el retrobar petjades

de com fou llur pas pel món”.

 

La mort identifica

els homes i els animals,

també els diferencia.

Som les úniques bèsties

que neguem del tot la mort,

creient que tenim la sort

d’esperar un més enllà.

 

Jovem com um crânio

(Paulo Cézanne: pintor francês)

 

A inútil procura

 

De onde venho? O que sou? Para onde vou?

É esta a terrível

escura transcendente questão.

Quando cruzamos o umbral,

morremos, e uma vez mortos,

ninguém sabe o que pode suceder.

 

Inconcebível, escuro,

impenetrável segredo,

verdadeiro problema

que aos homens todos torna

crianças desnorteadas

enfrentando a própria sorte.

 

O antigo livro da morte

dos egípcios, bem nos dizia,

com austera prudência:

“Deixai, pois, para o fim

longínquo dos seres vivos,

o reencontro das pegadas

do seu passo pelo mundo”.

 

A morte identifica

os homens e os animais,

também os diferencia.

Somos as únicas bestas

que negamos totalmente a morte,

crendo ter a sorte

de esperar um mais além de lá.

 

Referência:

 

CARNER, Joan Reventós i. La inútil recerca / A inútil procura. Tradução de Leopold Rodés i Garriga. In: __________. Els àngels no saben vetllar els morts / Os anjos não sabem velar os mortos. Edição bilíngue: Catalão x Português. Tradução de Leopold Rodés i Garriga. Introdução de Alfredo Bosi. 1. ed. São Paulo, SP: Paralaxe, 2008. Em catalão: p. 32; em português: p. 33.

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