O poeta se encontra desorientado
ante os questionamentos maiores de “nossa vã filosofia”: “de onde venho / o que
sou / para onde vou?”, perguntas que, por si sós, já demonstram a efemeridade
de toda experiência humana sobre a terra, digam o que digam os que sustentam
haver uma outra existência pós-morte.
Nas palavras do falante,
avulta o ceticismo impregnado nos versos da derradeira estrofe, atribuindo aos
humanos a prerrogativa de negar “totalmente a morte”, crendo-se detentores da
sorte maior de usufruir uma outra vida depois de ultrapassados os umbrais do
passamento, sorte que a nenhum outro animal teria sido concedida pelos deuses.
J.A.R. – H.C.
Joan Reventós i
Carner
(1927-2004)
La inútil recerca
D’on vinc? Què sóc?
On vaig?
És aquesta la
terrible
fosca transcendent
qüestió.
Quan travessem el
llindar,
morim, i un cop som
morts,
ningú sap què ens pot
passar.
Inconcebible, obscur,
impenetrable secret,
veritable problema
que a tots els homes
fa
infants esmaperduts
afrontant la pròpia
sort.
L’antic llibre de la
mort
dels egipcis, bé ens
diu,
amb austera
prudència:
“Deixeu, doncs, per a
la fi
llunyana dels éssers
vius,
el retrobar petjades
de com fou llur pas
pel món”.
La mort identifica
els homes i els
animals,
també els diferencia.
Som les úniques
bèsties
que neguem del tot la
mort,
creient que tenim la
sort
d’esperar un més
enllà.
Jovem com um crânio
(Paulo Cézanne:
pintor francês)
A inútil procura
De onde venho? O que
sou? Para onde vou?
É esta a terrível
escura transcendente
questão.
Quando cruzamos o
umbral,
morremos, e uma vez
mortos,
ninguém sabe o que
pode suceder.
Inconcebível, escuro,
impenetrável segredo,
verdadeiro problema
que aos homens todos
torna
crianças desnorteadas
enfrentando a própria
sorte.
O antigo livro da
morte
dos egípcios, bem nos
dizia,
com austera
prudência:
“Deixai, pois, para o
fim
longínquo dos seres
vivos,
o reencontro das
pegadas
do seu passo pelo
mundo”.
A morte identifica
os homens e os
animais,
também os diferencia.
Somos as únicas
bestas
que negamos
totalmente a morte,
crendo ter a sorte
de esperar um mais
além de lá.
Referência:
CARNER, Joan Reventós
i. La inútil recerca / A inútil procura. Tradução de Leopold Rodés i Garriga.
In: __________. Els àngels no saben vetllar els morts / Os anjos não sabem
velar os mortos. Edição bilíngue: Catalão x Português. Tradução de Leopold
Rodés i Garriga. Introdução de Alfredo Bosi. 1. ed. São Paulo, SP: Paralaxe, 2008.
Em catalão: p. 32; em português: p. 33.
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