Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 16 de abril de 2023

Franco Fortini - O Comunismo

Neste poema, Fortini – importante intelectual marxista da segunda metade do século passado – descreve, de uma forma matizada por uma fina ironia, as suas relações, aparentemente conturbadas, com a causa comunista e os seus companheiros, engajados nas lutas políticas contra os efeitos corrosivos do modo de produção capitalista sobre o tecido social da sua Itália natal.

 

Na estrofe derradeira do poema, como se propusesse a enfatizar aos seus camaradas o quanto estavam equivocados em atormentá-lo com razões outras, alusivas aos embates presuntivos das ações em campo, o falante soergue a bandeira da “horrenda ciência” que lhes vem de encontro: a verdade jamais pode ser desconsiderada, antes, deve ser disseminada no “tempo e no ar”, principalmente entre aqueles que têm o múnus de instruir, de educar o povo.

 

J.A.R. – H.C.

 

Franco Fortini

(1917-1994)

 

Il Comunismo

 

Sempre sono stato comunista.

Ma giustamente gli altri comunisti

hanno sospettato di me. Ero comunista

troppo oltre le loro certezze e i miei dubbi.

Giustamente non m’hanno riconosciuto.

 

La disciplina mia non potevano vederla.

Il mio centralismo pareva anarchia.

La mia autocritica negava la loro.

Non si può essere comunista speciale.

Pensarlo vuol dire non esserlo.

 

Così giustamente non m’hanno riconosciuto

i miei compagni. Servo del capitale

io, come loro. Più, anzi: perché lo dimenticavo.

E lavoravano essi, mentre io il mio piacere cercavo.

Anche per questo sempre ero comunista.

 

Troppo oltre le loro certezze e i miei dubbi

di questo mondo sempre volevo la fine.

Ma la mia fine anche. E anche questo, più questo,

li allontanava da me. Non li aiutava la mia speranza.

Il mio centralismo pareva anarchia.

 

Com’è chi per sé vuole più verità

per essere agli altri più vero e perché gli altri

siano lui stesso, così sono vissuto e muoio.

Sempre dunque sono stato comunista.

Di questo mondo sempre volevo la fine.

 

Vivo, ho vissuto abbastanza per vedere

da scienza orrenda percossi i compagni che m’hanno piagato.

Ma dite: lo sapevate che ero dei vostri, voi, no?

Per questo mi odiavate? Oh, la mia verità è necessaria,

dissolta in tempo e aria, cuori più attenti a educare.

 

Múltiplas vistas

(Stuart Davis: pintor norte-americano)

 

O Comunismo

 

Fui sempre comunista.

Mas, com acerto, os outros comunistas

têm suspeitado de mim. Eu era comunista

muito além das suas certezas e de minhas dúvidas.

Com razão, eles não me reconheceram.

 

Minha disciplina eles não conseguiam ver.

Meu centralismo parecia anarquia.

Minha autocrítica negava a deles.

Não se pode ser um comunista especial.

Pensar desse modo significa não o ser.

 

Por conseguinte, com acerto, meus companheiros

não me reconheceram. Sou servo do capital,

como eles. Mais, com efeito: porque o esqueci.

E eles no trabalho, enquanto eu buscava meu prazer.

Também por isso sempre fui comunista.

 

Muito além das suas certezas e de minhas dúvidas,

sempre desejei o fim deste mundo.

Mas o meu fim também. E também isso, mais que tudo,

distanciou-os de mim. Minha esperança não os ajudou.

Meu centralismo parecia anarquia.

 

Como alguém que, para si mesmo, quer mais verdade

para ser mais autêntico aos outros e para que os outros

sejam eles mesmos, assim vivi e hei de morrer.

À vista disso, sempre fui comunista.

Sempre quis o fim deste mundo.

 

Vivo, já subsisti o suficiente para ver

a horrenda ciência açoitar os camaradas que me acossavam.

Dize, porém: sabias que eu era um dos teus, não sabias?

Odiavas-me por isso? Oh, a minha verdade é necessária,

difundida no tempo e no ar, corações mais zelosos em educar.

 

Referência:

 

FORTINI, Franco. Il comunismo. In: SMITH, Lawrence R. (Editor and Translator). The new italian poetry: 1945 to the present. A Bilingual Anthology: Italian - English. Berkeley, CA: University of California Press, 1981. p. 58.

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