Neste poema, Fortini –
importante intelectual marxista da segunda metade do século passado – descreve,
de uma forma matizada por uma fina ironia, as suas relações, aparentemente
conturbadas, com a causa comunista e os seus companheiros, engajados nas lutas políticas
contra os efeitos corrosivos do modo de produção capitalista sobre o tecido
social da sua Itália natal.
Na estrofe derradeira
do poema, como se propusesse a enfatizar aos seus camaradas o quanto estavam
equivocados em atormentá-lo com razões outras, alusivas aos embates presuntivos
das ações em campo, o falante soergue a bandeira da “horrenda ciência” que lhes
vem de encontro: a verdade jamais pode ser desconsiderada, antes, deve ser
disseminada no “tempo e no ar”, principalmente entre aqueles que têm o múnus de
instruir, de educar o povo.
J.A.R. – H.C.
Franco Fortini
(1917-1994)
Il Comunismo
Sempre sono stato
comunista.
Ma giustamente gli
altri comunisti
hanno sospettato di
me. Ero comunista
troppo oltre le loro certezze
e i miei dubbi.
Giustamente non m’hanno
riconosciuto.
La disciplina mia non
potevano vederla.
Il mio centralismo
pareva anarchia.
La mia autocritica
negava la loro.
Non si può essere
comunista speciale.
Pensarlo vuol dire
non esserlo.
Così giustamente non
m’hanno riconosciuto
i miei compagni.
Servo del capitale
io, come loro. Più,
anzi: perché lo dimenticavo.
E lavoravano essi,
mentre io il mio piacere cercavo.
Anche per questo
sempre ero comunista.
Troppo oltre le loro
certezze e i miei dubbi
di questo mondo
sempre volevo la fine.
Ma la mia fine anche.
E anche questo, più questo,
li allontanava da me.
Non li aiutava la mia speranza.
Il mio centralismo
pareva anarchia.
Com’è chi per sé
vuole più verità
per essere agli altri
più vero e perché gli altri
siano lui stesso,
così sono vissuto e muoio.
Sempre dunque sono
stato comunista.
Di questo mondo
sempre volevo la fine.
Vivo, ho vissuto
abbastanza per vedere
da scienza orrenda
percossi i compagni che m’hanno piagato.
Ma dite: lo sapevate
che ero dei vostri, voi, no?
Per questo mi
odiavate? Oh, la mia verità è necessaria,
dissolta in tempo e
aria, cuori più attenti a educare.
Múltiplas vistas
(Stuart Davis: pintor
norte-americano)
O Comunismo
Fui sempre comunista.
Mas, com acerto, os
outros comunistas
têm suspeitado de
mim. Eu era comunista
muito além das suas
certezas e de minhas dúvidas.
Com razão, eles não
me reconheceram.
Minha disciplina eles
não conseguiam ver.
Meu centralismo
parecia anarquia.
Minha autocrítica
negava a deles.
Não se pode ser um
comunista especial.
Pensar desse modo
significa não o ser.
Por conseguinte, com
acerto, meus companheiros
não me reconheceram.
Sou servo do capital,
como eles. Mais, com
efeito: porque o esqueci.
E eles no trabalho,
enquanto eu buscava meu prazer.
Também por isso
sempre fui comunista.
Muito além das suas
certezas e de minhas dúvidas,
sempre desejei o fim
deste mundo.
Mas o meu fim também.
E também isso, mais que tudo,
distanciou-os de mim.
Minha esperança não os ajudou.
Meu centralismo parecia
anarquia.
Como alguém que, para
si mesmo, quer mais verdade
para ser mais autêntico
aos outros e para que os outros
sejam eles mesmos,
assim vivi e hei de morrer.
À vista disso, sempre
fui comunista.
Sempre quis o fim
deste mundo.
Vivo, já subsisti o
suficiente para ver
a horrenda ciência açoitar
os camaradas que me acossavam.
Dize, porém: sabias
que eu era um dos teus, não sabias?
Odiavas-me por isso?
Oh, a minha verdade é necessária,
difundida no tempo e
no ar, corações mais zelosos em educar.
Referência:
FORTINI, Franco. Il
comunismo. In: SMITH, Lawrence R. (Editor and Translator). The new italian
poetry: 1945 to the present. A Bilingual Anthology: Italian - English.
Berkeley, CA: University of California Press, 1981. p. 58.
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