Subentende-se o fluxo
das águas por um moinho nas metáforas aqui empregadas pelo poeta gaúcho, no
momento mesmo da criação poética, quando lhe borbulham ideias, vertidas com
cuidado em palavras convenientemente “tosquiadas” de seus excessos: pássaros e
ninhos são as imagens-síntese desse processo de “reinvenção do mundo”.
Na mais corriqueira
de todas as ferramentas de um vate – as palavras – condensa-se um olhar capaz
de antecipar o que vai se desvanecer, desintegrando-se à “realidade”, ou, ainda,
aquilo que haverá de sobrevir: nessa floresta de encantamentos, que é a poesia,
processa-se a infusão alquímica de novos mundos – obviamente, a partir de todo
um mundo prévio confinado no poeta, como diria Victor Hugo.
J.A.R. – H.C.
César Pereira
(n. 1934)
Ferramentas
Junto palavras
como quem inventa
moinhos
Tão cálido é o gesto
que me nascem
pássaros e ninhos
Entre espadas e fuga
busco caminhos
escondo a ruga
Domo palavras
e excessos de que me
inundo
Enxugo as ferramentas
e a cada manhã
reinvento o mundo.
O Criador de Mundos
(Matthew Sauder:
artista canadense)
Referência:
PEREIRA, César.
Ferramentas. In: DEGRAZIA, José Eduardo (Org.). Em mãos III. Porto
Alegre, RS: L&PM, 2012. p. 19.
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