A poetisa
norte-americana enfatiza nestas linhas as facetas animal e espiritual de todo ser
humano, à procura de conciliação ou de harmonia, sugerindo, em meio a inflexões
com tons algo reverentes, que mesmo o nosso lado mais instintivo ou intuitivo
pode nos fazer ascender a alturas jamais cogitadas, expondo-nos a uma espécie
de epifania d’alma.
Se a falante medita
sobre a morte, talvez seja porque não houvesse, em determinado estágio de sua
vida, suficiente integração entre essas duas partes, uma delas amordaçada e
aprisionada no ser – o seu lado animal –, a clamar por liberdade: nesse plano
dual, revela-se aí o receio de que o lado não racional, ou até mesmo
irracional, tome de assalto a mente e possa levar tudo a perder.
J.A.R. – H.C.
Chase Twichell
(n. 1950)
Saint Animal
Suddenly it was clear
to me –
I was something I
hadn’t been before.
It was as if the
animal part of my being
had reached some kind
of maturity that gave it
authority, and had
begun to use it.
I thought about death
for two years.
My animal flailed and
tore at its cage
till I let it go. I
watched it
drift out into the
easy eddies of twilight
and then veer off,
not knowing me.
I’m not a bird but I’m
inhabited by a spirit
that’s uplifting me.
It’s my animal, my saint
and soldier, my flame
of yearning,
come back to tell me
what it was like to
be without me.
Homem-pássaro
(Liqing Tan: artista
chinesa)
Santo Animal
De repente, ficou
claro para mim –
eu era algo que não
havia sido antes.
Era como se a parte animal
do meu ser
houvesse atingido
algum tipo de maturidade
que lhe dava autoridade,
e começasse a empregá-la.
Meditei sobre a morte
ao longo de dois anos.
Meu animal se debateu
e derruiu sua gaiola
até que consentisse
em sua partida. Observei-o
a deixar-se levar
pelos suaves remoinhos do crepúsculo,
logo se desviando,
sem me reconhecer.
Não sou um pássaro, mas
sou habitado por um espírito
que me faz ascender.
É meu animal, meu santo
e meu soldado, minha
chama de ardente desejo:
volta para contar-me
como era estar sem
mim.
Referência:
TWICHELL, Chase.
Saint animal. In: ASTLEY, Neil (Ed.). Staying alive: real poems for
unreal times. 1st. ed. New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 51.
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