Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 3 de setembro de 2022

Chase Twichell - Santo Animal

A poetisa norte-americana enfatiza nestas linhas as facetas animal e espiritual de todo ser humano, à procura de conciliação ou de harmonia, sugerindo, em meio a inflexões com tons algo reverentes, que mesmo o nosso lado mais instintivo ou intuitivo pode nos fazer ascender a alturas jamais cogitadas, expondo-nos a uma espécie de epifania d’alma.

 

Se a falante medita sobre a morte, talvez seja porque não houvesse, em determinado estágio de sua vida, suficiente integração entre essas duas partes, uma delas amordaçada e aprisionada no ser – o seu lado animal –, a clamar por liberdade: nesse plano dual, revela-se aí o receio de que o lado não racional, ou até mesmo irracional, tome de assalto a mente e possa levar tudo a perder.

 

J.A.R. – H.C.

 

Chase Twichell

(n. 1950)

 

Saint Animal

 

Suddenly it was clear to me –

I was something I hadn’t been before.

It was as if the animal part of my being

 

had reached some kind of maturity that gave it

authority, and had begun to use it.

 

I thought about death for two years.

My animal flailed and tore at its cage

till I let it go. I watched it

 

drift out into the easy eddies of twilight

and then veer off, not knowing me.

 

I’m not a bird but I’m inhabited by a spirit

that’s uplifting me. It’s my animal, my saint

and soldier, my flame of yearning,

 

come back to tell me

what it was like to be without me.

 

Homem-pássaro

(Liqing Tan: artista chinesa)

 

Santo Animal

 

De repente, ficou claro para mim –

eu era algo que não havia sido antes.

Era como se a parte animal do meu ser

 

houvesse atingido algum tipo de maturidade

que lhe dava autoridade, e começasse a empregá-la.

 

Meditei sobre a morte ao longo de dois anos.

Meu animal se debateu e derruiu sua gaiola

até que consentisse em sua partida. Observei-o

 

a deixar-se levar pelos suaves remoinhos do crepúsculo,

logo se desviando, sem me reconhecer.

 

Não sou um pássaro, mas sou habitado por um espírito

que me faz ascender. É meu animal, meu santo

e meu soldado, minha chama de ardente desejo:

 

volta para contar-me

como era estar sem mim.

 

Referência:

 

TWICHELL, Chase. Saint animal. In: ASTLEY, Neil (Ed.). Staying alive: real poems for unreal times. 1st. ed. New York, NY: Miramax Books, 2003. p. 51.

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