Tsvetáeva fala-nos
aqui sobre o triste destino de seus poemas, mesmo aqueles ainda verdoengos, cerzidos
por versos que mais parecem “pingos de uma fonte”, “centelhas de foguete”, sacrílegos
e “pequenos demônios” que, sem consentimento, irrompem num recinto sagrado:
julga não haver espaço para eles junto ao público, quaisquer que sejam os motivos,
eis porque jamais lidos.
Mas a estrofe de fechamento
do poema tem um quê de vaticínio, de profecia auspiciosa para dias futuros; frise-se
melhor, seus versos, como vinhos raros, ganhariam em atributos, em valor,
melhor se diria, em reconhecimento: presentemente, a poesia de Tsvetáeva galgou
a merecida estadia entre os grandes nomes do Parnaso russo!
J.A.R. – H.C.
Marina Tsvetáeva
(1892-1941)
Моим стихам
Моим стихам, написанным так рано,
Что и не знала я, что я – поэт,
Сорвавшимся, как брызги из фонтана,
Как искры из ракет,
Ворвавшимся, как маленькие черти,
В святилище, где сон и фимиам,
Моим стихам о юности и смерти,
– Нечитанным стихам! –
Разбросанным в пыли по магазинам
(Где их никто не брал и не берёт!),
Моим стихам, как драгоценным винам,
Настанет свой черёд.
Май 1913
Коктебель
Santuário
(Tone Aanderaa:
artista norueguesa)
Para meus versos
Para meus versos,
escritos de repente,
Quando eu nem sabia
que era ― poeta,
Jorrando como pingos
da nascente,
Como centelhas do
foguete,
Irrompendo como pequenos
demônios,
No santuário, onde há
sono e incenso,
Para meus versos
sobre juventude e morte,
– Versos que não são lidos! –
Espalhados em sebos
poeirentos
(Onde ninguém os
pegou ou pegará!)
Para meus versos,
como os vinhos raros,
Chegará o seu tempo.
Maio de 1913
Koktebel
Referência:
TSVETÁEVA, Marina. Моим стихам / Para meus versos. Tradução de Veronica Filíppovna. In: LENTZ, Gleiton
(Ed.). (n.t.) Revista literária de tradução. ano 1, n. 1, set. 2010.
Florianópolis, SC. Em russo: p. 11; em português: p. 29. Disponível neste
endereço. Acesso em: 19 set. 2022.
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