Na seção inicial deste
poema de Hölderlin despontam alusões à natureza em pleno verão e/ou primavera, a
primeira metade de uma vida que se pretende pulsante, esperançada, dinâmica: peras
amarelas, rosas silvestres e cisnes em meio às águas “santas e sóbrias” de um
lago. Já passei por tais sazões! (rs)
Agora estou, como
Hölderlin em pensamentos, numa zona de transição entre o outono e o inverno, o
tema de sua estrofe final: ainda há dinâmica suficiente, mas os interesses
mudaram bastante. O que haverá sobre essas longas águas que começam a refletir
as luzes de um fim de tarde?
Cisnes, cisnes na
linha do tempo... Quem não os associaria à expressão “o canto do cisne”, extraída
a uma lenda segundo a qual, a ave, ao perceber a chegada da morte, entoaria uma
canção de despedida bela e serena?!
J.A.R. – H.C.
Friedrich Hölderlin
(1770-1843)
Hälfte des Lebens
Mit gelben Birnen
hänget
Und voll mit wilden
Rosen
Das Land in den See,
Ihr holden Schwäne,
Und trunken von
Küssen
Tunkt ihr das Haupt
Ins heilignüchterne
Wasser.
Weh mir, wo nehm ich,
wenn
Es Winter ist, die
Blumen, und wo
Den Sonnenschein,
Und Schatten der
Erde?
Die Mauern stehn
Sprachlos und kalt,
im Winde
Klirren die Fahnen.
Natureza-morta amarela
com peras
(Larissa Uvarova: artista
ucraniana)
Metade da Vida
Peras amarelas
E rosas silvestres
Da paisagem sobre a
Lagoa.
Ó cisnes graciosos,
Bêbedos de beijos,
Enfiando a cabeça
Na água santa e
sóbria!
Ai de mim, aonde, se
É inverno agora,
achar as
Flores? e aonde
O calor do sol
E a sombra da terra?
Os muros avultam
Mudos e frios; à fria
nortada
Rangem os cata-ventos.
Referências:
Em Alemão
HÖLDERLIN, Friedrich.
Hälfte des lebens. Disponível neste endereço. Acesso em: 27 ago.
2022.
Em Português
HÖLDERLIN, Friedrich.
Metade da vida. Tradução de Manuel Bandeira. In: BANDEIRA, Manuel. Poemas
traduzidos. 3. ed., revista e aumentada. Rio de Janeiro: José Olympio, 1956.
p. 130. (Coleção ‘Rubáiyát’)
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