Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 9 de setembro de 2022

Dilan Camargo - Três em Nenhum

Eis aqui mais um metapoema, com três pequenas estrofes para, em cada uma delas, se dizer algo sobre a poesia, os poetas e os seus leitores, ou melhor, para fincar indagações na mente do intérprete, não exatamente asserções, afirmações, axiomas – com o que não se faria jus a esse sistema multivariado e aberto, de amplos domínios, a muito justificar as razões pelas quais a poesia e o seu entorno não se deixam enquadrar por completo.

 

“Gotas” se transformam em “gostos”, sendo estes lançados em pequenos volumes encapsulados num “disfarce da razão” – a poesia –, em meio a “palavras incompletas”, vale dizer, um recurso não de todo despropositado, até mesmo para não se delimitar um terreno que, como se disse, navega pela sugestão, pela polissemia, pelo jogo de sentidos.

 

J.A.R. – H.C.

 

Dilan Camargo

(n. 1948)

 

Três em Nenhum

 

A poesia?

Esse disfarce da razão

máscara da luz do dia

só para pular seu carnaval?

 

Os poetas?

Os que usam a língua a conta-gostos

esses filhos da luta com a preguiça

que abusam das palavras incompletas?

 

Os leitores de poesia?

Essa imensa minoria (*)

mantida à míngua

de nenhuma palavra por dia?

 

A leitura de poesia

(Ivan G. Olinsky: pintor russo-americano)

 

Nota:

 

(*). Referência à dedicatória por meio da qual o poeta espanhol Juan Ramón Jiménez (1881-1958) oferecia a sua obra ao público leitor de poesia (‘A la inmensa minoría’).

 

Referência:

 

CAMARGO, Dilan. Três em nenhum. In: DEGRAZIA, José Eduardo (Org.). Em mãos III. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012. p. 49.

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