Eis aqui mais um metapoema,
com três pequenas estrofes para, em cada uma delas, se dizer algo sobre a
poesia, os poetas e os seus leitores, ou melhor, para fincar indagações na
mente do intérprete, não exatamente asserções, afirmações, axiomas – com o que
não se faria jus a esse sistema multivariado e aberto, de amplos domínios, a
muito justificar as razões pelas quais a poesia e o seu entorno não se deixam
enquadrar por completo.
“Gotas” se
transformam em “gostos”, sendo estes lançados em pequenos volumes encapsulados
num “disfarce da razão” – a poesia –, em meio a “palavras incompletas”, vale
dizer, um recurso não de todo despropositado, até mesmo para não se delimitar
um terreno que, como se disse, navega pela sugestão, pela polissemia, pelo jogo
de sentidos.
J.A.R. – H.C.
Dilan Camargo
(n. 1948)
Três em Nenhum
A poesia?
Esse disfarce da
razão
máscara da luz do dia
só para pular seu
carnaval?
Os poetas?
Os que usam a língua
a conta-gostos
esses filhos da luta
com a preguiça
que abusam das
palavras incompletas?
Os leitores de
poesia?
Essa imensa
minoria (*)
mantida à míngua
de nenhuma palavra
por dia?
A leitura de poesia
(Ivan G. Olinsky:
pintor russo-americano)
Nota:
(*). Referência à
dedicatória por meio da qual o poeta espanhol Juan Ramón Jiménez (1881-1958)
oferecia a sua obra ao público leitor de poesia (‘A la inmensa minoría’).
Referência:
CAMARGO, Dilan. Três em nenhum. In: DEGRAZIA, José Eduardo (Org.). Em mãos III. Porto Alegre, RS: L&PM, 2012. p. 49.
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