Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 15 de setembro de 2022

Umberto Saba - Trieste

Assim como Langston Hughes, poeta negro, cantou loas à América onde nascera (I, too, sing America), Saba, poeta italiano de ascendência judaica, exaltou Trieste, sua cidade natal, urbe com pouco mais de duzentos mil habitantes, mas que lhe parecia um recanto propício, à medida para a sua vida meditativa e reclusa.

 

As metáforas empregadas pelo poeta revelam uma cidade aberta, viva, expansiva, devotada ao comércio por intermédio de seu porto, mas, ao mesmo tempo, um burgo reservado e de taciturna graça, com um relevo demarcado por colinas e um ar qualificado como tormentoso, estranho, nativo.

 

J.A.R. – H.C.

 

Umberto Saba

(1883-1957)

 

Trieste

 

Ho attraversata tutta la città.

Poi ho salita un’erta

popolosa in principio, in là deserta,

chiusa da un muricciolo:

un cantuccio in cui solo

siedo; e mi pare che dove esso termina

termini la città.

 

Trieste ha una scontrosa

grazia. Se piace,

è come un ragazzaccio aspro e vorace,

con gli occhi azzurri e mani troppo grandi

per regalare un fiore;

come un amore

con gelosia.

Da quest’erta ogni chiesa, ogni sua via

scopro, se mena all’ingombrata spiaggia,

o alla collina cui, sulla sassosa

cima, una casa, l’ultima, s’aggrappa.

Intorno

circola ad ogni cosa

un’aria strana, un’aria tormentosa,

l’aria natia.

 

La mia città che in ogni parte è viva,

ha il cantuccio a me fatto, alla mia vita

pensosa e schiva.

 

In: “Trieste e una donna” (1910-1912)

 

Trieste: rua da catedral

(Anthony Meton: pintor norte-americano)

 

Trieste

 

Atravessei toda a cidade.

Depois subi uma ladeira,

cheia de gente ao princípio, no fim deserta,

fechada por uma mureta:

um recanto onde sozinho

me sento; e a mim parece que onde ela termina,

termine a cidade.

 

Trieste tem uma graça

capciosa. Quando agrada,

é como um garotão áspero e voraz,

de olhos azuis e as mãos grandes demais

para oferecer uma flor;

como um amor

ciumento.

Daqui do alto descubro cada igreja, cada rua

leve ela à praia atulhada

ou à colina em cujo cimo rochoso

uma casa, a última, se aferra.

Em volta

de cada coisa circula

um ar estranho, um ar tormentoso,

o ar nativo.

 

A minha cidade que por toda parte é viva

tem o recanto feito para mim, à medida de minha vida,

meditativa e reclusa.

 

Em: “Trieste e uma mulher” (1910-1912)

 

Referência:

 

SABA, Umberto. Trieste / Trieste. Tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti. Revista Brasileira. Academia Brasileira de Letras, Rio de Janeiro (RJ), fase VII, outubro-novembro-dezembro 2006, ano XIII, n. 49. Em italiano: p. 228; em português: p. 229. Disponível neste endereço. Acesso em: 12 set. 2022.

Nenhum comentário:

Postar um comentário