Como diria o
compositor Guilherme Arantes, em “Olhos Vermelhos” – “O mundo vive a noite. / Todo
mundo espera tudo da noite. / Nela tudo pode”. Numa noite de sexta-feira,
então, quando se encerra a semana de trabalho para muitos, tem-se o fastígio
desse propósito, dessa busca de desfrute e de prazer.
Contudo, Colasanti,
nestes versos, retrata encontros sexuais entre maridos e esposas que apenas cumprem
um dever conjugal, algo mecanicamente, motivo por que, insatisfeitas, elas põem-se
a sonhar com um futuro no qual terão encontrado o seu príncipe encantado, o que
importa o descarte da máxima de que “mais vale um pássaro na mão, do que dois voando”.
E continuam à procura do melhor dos mundos possíveis! (rs)
J.A.R. – H.C.
Marina Colasanti
(n. 1937)
Sexta-feira à noite
Sexta-feira à noite
os homens acariciam o
clitóris das esposas
com dedos molhados de
saliva.
O mesmo gesto com que
todos os dias
contam dinheiro
papéis documentos
e folheiam nas
revistas
a vida dos seus
ídolos.
Sexta-feira à noite
os homens penetram
suas esposas
com tédio e pênis.
O mesmo tédio com que
todos os dias
enfiam o carro na
garagem
o dedo no nariz
e metem a mão no
bolso
para coçar o saco.
Sexta-feira à noite
os homens ressonam de
borco
enquanto as mulheres
no escuro
encaram seu destino
e sonham com o
príncipe encantado.
Os amantes
(Vincenzo Stanislao:
artista italiano)
Referência:
COLASANTI, Marina.
Sexta-feira à noite. In: JARDIM, Rubens (Org.). As mulheres poetas na
literatura brasileira: antologia poética. Volume 1. São Paulo, SP: Edição
do Autor, 2018. p. 62.
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