Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 17 de setembro de 2022

Marina Colasanti - Sexta-feira à noite

Como diria o compositor Guilherme Arantes, em “Olhos Vermelhos” – “O mundo vive a noite. / Todo mundo espera tudo da noite. / Nela tudo pode”. Numa noite de sexta-feira, então, quando se encerra a semana de trabalho para muitos, tem-se o fastígio desse propósito, dessa busca de desfrute e de prazer.

 

Contudo, Colasanti, nestes versos, retrata encontros sexuais entre maridos e esposas que apenas cumprem um dever conjugal, algo mecanicamente, motivo por que, insatisfeitas, elas põem-se a sonhar com um futuro no qual terão encontrado o seu príncipe encantado, o que importa o descarte da máxima de que “mais vale um pássaro na mão, do que dois voando”. E continuam à procura do melhor dos mundos possíveis! (rs)

 

J.A.R. – H.C.

 

Marina Colasanti

(n. 1937)

 

Sexta-feira à noite

 

Sexta-feira à noite

os homens acariciam o clitóris das esposas

com dedos molhados de saliva.

O mesmo gesto com que todos os dias

contam dinheiro papéis documentos

e folheiam nas revistas

a vida dos seus ídolos.

 

Sexta-feira à noite

os homens penetram suas esposas

com tédio e pênis.

O mesmo tédio com que todos os dias

enfiam o carro na garagem

o dedo no nariz

e metem a mão no bolso

para coçar o saco.

 

Sexta-feira à noite

os homens ressonam de borco

enquanto as mulheres no escuro

encaram seu destino

e sonham com o príncipe encantado.

 

Os amantes

(Vincenzo Stanislao: artista italiano)

 

Referência:

 

COLASANTI, Marina. Sexta-feira à noite. In: JARDIM, Rubens (Org.). As mulheres poetas na literatura brasileira: antologia poética. Volume 1. São Paulo, SP: Edição do Autor, 2018. p. 62.

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