Imagino que o poeta
madrilenho, neste poema, se refira ao bíblico Rio Jordão, no Oriente Médio,
onde Cristo teria sido batizado por João Batista, partindo daí, direta ou
indiretamente, a alusão a um estado tencionado de purificação: consigne-se, por
oportuno, que as águas do Jordão, à medida que se aproximam do deságue no Mar Morto,
apresentam significativo teor salino, o que dá sustentação ao título do poema e
às associações de que Vela se utiliza.
O ardor, o fogo
genital, a acobertação resignada da sexualidade, “por temor a deus”; a fé de um
povo despossuído e faminto que, debalde, espera e espera; e a dor, por meio da
qual chegamos à vida, e em meio à qual, no mais das vezes, a abandonamos no
óbito: sobre todas as vicissitudes, desaires, fraquezas, o sal das ilibações!
J.A.R. – H.C.
Javier Vela
(n. 1981)
Jordán
La sal nos purifica:
si sufrimos,
si con resignación
disimulamos
la escocedura, el
fuego genital,
es por temor a dios.
El agua adensa
la fe de los hambrientos
y los desposeídos,
la fe de quien se
cansa
de esperar.
Como una nieve sucia,
la sal nos purifica.
Por el dolor,
llegamos a la vida:
por él, una vez más,
la abandonamos.
Rio Jordão em Israel
(Hannah Baruchi: pintora
israelense)
Jordão
O sal nos purifica:
se sofremos,
se, com resignação, dissimulamos
a comichão, o fogo
genital,
é por temor a deus. A
água adensa
a fé dos famintos e
dos despossuídos,
a fé de quem se cansa
de esperar.
Como uma neve suja, o
sal nos purifica.
Em meio à dor,
chegamos à vida:
em meio à dor, uma
vez mais, a abandonamos.
Referência:
VELA, Javier. Jordán. In: DÍAZ, Rafael-José (Selección y notas). Identikit: muestra de poesía española reciente. 1. ed. [Lima, PE]: Vallejo & Co., abril 2016. p. 21. Disponível neste endereço. Acesso em: 2 set. 2022.
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