Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 8 de setembro de 2022

Javier Vela - Jordão

Imagino que o poeta madrilenho, neste poema, se refira ao bíblico Rio Jordão, no Oriente Médio, onde Cristo teria sido batizado por João Batista, partindo daí, direta ou indiretamente, a alusão a um estado tencionado de purificação: consigne-se, por oportuno, que as águas do Jordão, à medida que se aproximam do deságue no Mar Morto, apresentam significativo teor salino, o que dá sustentação ao título do poema e às associações de que Vela se utiliza.

 

O ardor, o fogo genital, a acobertação resignada da sexualidade, “por temor a deus”; a fé de um povo despossuído e faminto que, debalde, espera e espera; e a dor, por meio da qual chegamos à vida, e em meio à qual, no mais das vezes, a abandonamos no óbito: sobre todas as vicissitudes, desaires, fraquezas, o sal das ilibações!

 

J.A.R. – H.C.

 

Javier Vela

(n. 1981)

 

Jordán

 

La sal nos purifica:

si sufrimos,

si con resignación disimulamos

la escocedura, el fuego genital,

es por temor a dios. El agua adensa

la fe de los hambrientos y los desposeídos,

la fe de quien se cansa

de esperar.

 

Como una nieve sucia, la sal nos purifica.

 

Por el dolor, llegamos a la vida:

por él, una vez más, la abandonamos.

 

Rio Jordão em Israel

(Hannah Baruchi: pintora israelense)

 

Jordão

 

O sal nos purifica:

se sofremos,

se, com resignação, dissimulamos

a comichão, o fogo genital,

é por temor a deus. A água adensa

a fé dos famintos e dos despossuídos,

a fé de quem se cansa

de esperar.

 

Como uma neve suja, o sal nos purifica.

 

Em meio à dor, chegamos à vida:

em meio à dor, uma vez mais, a abandonamos.

 

Referência:

 

VELA, Javier. Jordán. In: DÍAZ, Rafael-José (Selección y notas). Identikit: muestra de poesía española reciente. 1. ed. [Lima, PE]: Vallejo & Co., abril 2016. p. 21. Disponível neste endereço. Acesso em: 2 set. 2022.

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