Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 19 de setembro de 2022

Frederico de Carvalho Gomes - A Cecília Meireles

O poeta fluminense, nascido em 1947 (Barra do Piraí – RJ), parodia o poema de Cecília Meireles “Ou isto ou aquilo”, com algumas diferenças topológicas e de conteúdo: (i) enquanto lá há oito estrofes em dísticos ou parelhas, aqui há quatro tercetos; (ii) em Meireles há hipóteses inclusivas que ocorrem alternativamente, ao passo que, em Gomes, tais hipóteses deixam de ocorrer por distintas razões que se interpuseram.

 

Se já não há perspectivas para que “nem isto nem aquilo” venham a suceder, é porque “o mundo fechou as portas às coisas vivas e às já mortas” e já não há espaço nem para o fugaz nem para o perene, pois “o tempo mudou de rosto”.

 

J.A.R. – H.C.

 

Natureza-morta: livro e abajur

(Vita Schagen: artista holandesa)

 

A Cecília Meireles

 

Nem isto nem aquilo

O tempo mudou de rosto

Não há mais mel ou seu gosto.

 

Nem isto nem aquilo

Ninguém mais vive atento

Não há o eterno nem o momento.

 

Nem isto nem aquilo

Nem de mais nem de menos

A poesia suja homens pequenos.

 

Nem isto nem aquilo

O mundo fechou as portas

Às coisas vivas e às já mortas.

 

Mulher lendo (a esposa do artista)

(Aaron Shikler: artista norte-americano)

 

Referência:

 

GOMES, Frederico de Carvalho. A Cecília Meireles. In: SAVARY, Olga (Organização, seleção, notas e apresentação). Antologia da nova poesia brasileira. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Rio / Hipocampo, 1992. p. 113.

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