O poeta fluminense,
nascido em 1947 (Barra do Piraí – RJ), parodia o poema de Cecília Meireles “Ou isto ou aquilo”,
com algumas diferenças topológicas e de conteúdo: (i) enquanto lá há oito
estrofes em dísticos ou parelhas, aqui há quatro tercetos; (ii) em Meireles
há hipóteses inclusivas que ocorrem alternativamente, ao passo que, em Gomes,
tais hipóteses deixam de ocorrer por distintas razões que se interpuseram.
Se já não há perspectivas
para que “nem isto nem aquilo” venham a suceder, é porque “o mundo fechou as
portas às coisas vivas e às já mortas” e já não há espaço nem para o fugaz nem
para o perene, pois “o tempo mudou de rosto”.
J.A.R. – H.C.
Natureza-morta: livro
e abajur
(Vita Schagen: artista
holandesa)
A Cecília Meireles
Nem isto nem aquilo
O tempo mudou de
rosto
Não há mais mel ou
seu gosto.
Nem isto nem aquilo
Ninguém mais vive
atento
Não há o eterno nem o
momento.
Nem isto nem aquilo
Nem de mais nem de
menos
A poesia suja homens
pequenos.
Nem isto nem aquilo
O mundo fechou as
portas
Às coisas vivas e às
já mortas.
Mulher lendo (a
esposa do artista)
(Aaron Shikler: artista
norte-americano)
Referência:
GOMES, Frederico de Carvalho. A Cecília Meireles. In: SAVARY, Olga (Organização, seleção, notas e apresentação). Antologia da nova poesia brasileira. Rio de Janeiro, RJ: Fundação Rio / Hipocampo, 1992. p. 113.
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