O poeta, ensaísta e
tradutor mexicano pertenceu ao corpo diplomático de seu país, condição que lhe
permitiu conhecer a cidade do Rio de Janeiro (RJ), tendo-lhe dedicado o
poemário “Romances del Río de Enero y otros poemas” (1933), de onde transcrevi
o poema abaixo.
Consigne-se que o título
– “El Botánico” – subentende, em sua literalidade, algo distinto ou mesmo aquém
do que, por fim, assumi como versão do designativo ao português – “O Jardim
Botânico” (no caso, o que foi fundado no Rio, em 1808, por decisão do então príncipe
regente Dom João).
De qualquer modo,
como quer que se traduza ao português o precitado título, o conteúdo do poema
extrapola as regiões lindeiras do que, em sentido estrito, diz-lhe respeito,
bastando ver, v.g., as descrições de pinturas do Brasil colonial – como as de
Debret e Rugendas –, ou mesmo de relações sociais entre nobres e aldeões
(reinterprete-se: em Pindorama, espelhadas no binômio Casa-Grande &
Senzala, de Freyre).
J.A.R. – H.C.
Alfonso Reyes
(1889-1959)
El Botánico
El-Rey Don Juan VI
trajo
una palmera de Cuba.
Para besarle los pies
todas las plantas se
juntan.
De los indianos
lanceros
– al cielo el morrión
de pluma –
las guardias trazan
la senda,
la senda corre entre
juncias.
Las randas de
samambaya
levanta un bambú de
alcurnia.
Los democráticos
cactos
se entre-palpan con
las púas.
Yace un tapiz de
nenúfares
sobre el agua que se
oculta,
pero el agua se
estremece
sabiendo que está
desnuda.
La hoja del papagayo
de tantos colores
muda,
que ya flamea en
granates
o llora de nieve
pura.
Un hidalgo, el
alcanfor;
una villana, la ruda:
Don Alonso exhala
esencias,
y Aldonza Lorenzo
suda.
Victoria Regia, de
bronce
ofrece a Moisés la
cuna:
bandeja sobre el
estanque,
blanca flor toda de
bruma.
Y hay otras,
latiniparlas
como las preciosas
cultas,
hijas de cien
apellidos
que ni ellas mismas
pronuncian.
Cola de pavo real,
toda la flora
fulgura,
y la luz cambia de
cálices
como el día de
postura.
De codos en la
montaña,
señora desde su
altura,
con su escuadrón de
furrieles
la noche espera y
escucha.
– Los pájaros la
consigna
gritaban de punta a
punta.
Ya se han cerrado las
rejas.
Ya sólo queda la luna.
Jardim Botânico do
Rio de Janeiro
(Pieter G. Bertichen:
pintor holandês)
O Jardim Botânico
El-Rei Dom João VI
trouxe
uma palmeira de Cuba.
Para beijar-lhe os
pés,
todas as plantas se
juntam.
Dos indígenas
lanceiros
– ao céu o morrião emplumado
–
os guardas traçam a
senda;
a senda corre entre caniços.
Um bambu imperial ergue
guarnições de
samambaias.
Os democráticos
cactos
entrelaçam-se aos
espinhais.
Um tapete de nenúfares
repousa
sobre a água que se
oculta,
mas a água se agita
sabendo que está nua.
A folha do papagaio
de tantas cores muda,
que já flameja em grenás
ou chora de neve
pura.
Um fidalgo, a
cânfora;
Uma aldeã, a rude:
Don Alonso exala
essências,
e Aldonza Lorenzo
transpira.
A vitória-régia
oferece
a Moisés o berço de
bronze:
bandeja sobre a
lagoa,
branca flor toda de
névoa.
E há outras, latiniparlas,
(*)
como as cultas
beldades,
filhas de cem
sobrenomes
que nem elas mesmas
pronunciam.
Cauda de pavão-real,
toda a flora fulgura,
e a luz muda os seus cálices,
como o dia a postura.
De cotovelos na
montanha,
muito senhora de sua altura,
com seu esquadrão de
intendentes
a noite espera e
escuta.
– Os pássaros gritavam
a senha de ponta a
ponta.
Já se fecharam os
gradeados.
Agora só resta a lua.
Nota:
(*). Latiniparla – Diz-se
de pessoa que ostenta o seu conhecimento de latim ou que tem a presunção de bem
falar tal idioma.
Referência:
REYES, Alfonso. El
botánico. In: __________. Romances del Río de Enero y otros poemas. Selección
y nota de Paola Velasco. 1. ed. Bogotá, CO: Universidad Externado de Colombia -
Decanatura Cultural, mayo de 2017. p. 36-38. (‘Un libro por centavos’; Poemario
n. 134)
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