Em dicção direta, não
exatamente denegatória em relação à beleza, como na tradução de Augusto de Campos (adaptada, claro
está, para se chegar às rimas do original em russo), Pasternak afirma ser “feio”
valer-se da fama e do sucesso para ostentar bem alto o próprio nome entre os
contemporâneos, quando lhe parece que a dedicação abnegada à verdadeira arte é
que deveria ser o denominador comum a firmar o valor de um trabalho, cujo
engenho se submeteria ao escrutínio menos partidário de gerações futuras.
São quadras que
expressam a doutrina de Pasternak sobre a criatividade e as regras segundo as
quais um autor deveria balizar a sua conduta, não se apegando a lauréis
enganosos: segundo o poeta, melhor seria trilhar um caminho digno e honesto,
não se rendendo fácil às circunstâncias de momento, porque delas se poderia tender à perdição completa!
J.A.R. – H.C.
Boris Pasternak
(1890-1960)
Быть знаменитым некрасиво (*)
Быть знаменитым некрасиво.
Не это подымает ввысь.
Не надо заводить архива,
Над рукописями трястись.
Цель творчества – самоотдача,
А не шумиха, не успех.
Позорно, ничего не знача,
Быть притчей на устах у всех.
Но надо жить без самозванства,
Так жить, чтобы в конце концов
Привлечь к себе любовь пространства,
Услышать будущего зов.
И надо оставлять пробелы
В судьбе, а не среди бумаг,
Места и главы жизни целой
Отчеркивая на полях.
И окунаться в неизвестность,
И прятать в ней свои шаги,
Как прячется в тумане местность,
Когда в ней не видать ни зги.
Другие по живому следу
Пройдут твой путь за пядью пядь,
Но пораженья от победы
Ты сам не должен отличать.
И должен ни единой долькой
Не отступаться от лица,
Но быть живым, живым и только,
Живым и только до конца.
1956
Mulheres XI
(Saori Akutagawa: artista
japonesa)
Contra a fama (*)
Ser famoso não é bonito.
Não nos torna mais
criativos.
São dispensáveis os
arquivos.
Um manuscrito é só um
escrito.
O fim da arte é doar
somente.
Não são os louros nem
as loas.
Constrange a nós,
pobres pessoas,
Estar na boca de toda
a gente.
Cumpre viver sem impostura.
Viver até os últimos
passos.
Aprender a amar os
espaços
E a ouvir o som da
voz futura.
Convém deixar brancos
à beira
Não do papel, mas do
destino,
E nesses vãos deixar
inscritos
Capítulos da vida
inteira.
Apagar-se no
anonimato,
Ocultando nossa
passagem
Pela vida, como à
paisagem
Oculta a nuvem com
recato.
Alguns seguirão,
passo a passo,
As pegadas do teu
passar,
Porém não deves
separar
Teu sucesso de teu
fracasso.
Não deves renunciar a
um mín-
Imo pedaço do teu
ser,
Só estar vivo e
permanecer
Vivo, e viver até o
fim.
1956
Nota:
(*). De fato, o
original russo não tem título, como bem o observa Augusto de Campos. (2006, p. 103,
n.r.)
Referências:
Em Russo
ПАСТЕРНАК, Борис. Быть знаменитым некрасиво.
Disponível neste
endereço. Acesso em: 6 set. 2022.
Em Português
PASTERNAK, Boris.
Contra a fama. Tradução de Augusto de Campos. In: CAMPOS, Augusto (Seleção e
Tradução). Poesia da recusa. São Paulo, SP: Perspectiva, 2006. p.
103-104.
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