Kaur, nascida na
Índia, mas agora radicada no Canadá, comenta como o seu pai mudou bastante
desde que deixou o país natal, a ponto de a mãe, depois de muito tempo sem
vê-lo e enlevada por se juntar novamente ao esposo em seu novo lar, logo
perceber que nem se parecia com a pessoa que conhecera antes de imigrar para o
Novo Mundo.
São as dificuldades
para se adaptar às mudanças impostas pelo novo ambiente, pela sociedade, pela
linguagem e pela cultura que engendram contratempos aos imigrantes, mesmo que
tenham a melhor das intenções – como a de prover um futuro mais promissor aos filhos,
como no caso de Kaur: explica-se, por conseguinte, as razões de o poema
situar-se na seção “Enraizar” da obra em referência, pois tal é o tema
primordial a que diz respeito.
J.A.R. – H.C.
Rupi Kaur
(n. 1992)
the new world had
drained him
for years they were
separated by oceans
left with nothing but
little photographs of each other
smaller than
pass-port size photos
hers was tucked into
a golden locket
his slipped inside
his wallet
at the end of the day
when their worlds
went quiet
studying them was
their only intimacy
this was a time long
before computers
when families in that
part of the world
had not seen a
telephone or laid their
almond eyes on a
coloured television screen
long before you and i
as the wheels of the
plane touched tarmac
she wondered if this
was the place
had she boarded the
right flight
should’ve asked the
air hostess twice
like her husband
suggested
walking into baggage
claim
her heart beat so
heavy
she thought it might
fall out
eyes darting in every
direction
searching for what to
do next when
suddenly
right there
in the flesh
he stood
not a mirage − a man
first came relief
then bewilderment
they’d imagined this
reunion for years
had rehearsed their
lines
but her mouth seemed
to forget
she felt a kick in
her stomach
when she saw the
shadows circling his eyes
and shoulders
carrying an invisible weight
it looked like the
life had been drained out of him
where was the person
she had wed
she wondered
reaching for the
golden locket
the one with the
photo of the man
her husband did not
look like anymore
O Lenhador
(Jean-François Millet:
pintor francês)
o novo mundo o
esvaziou
por anos eles ficaram
separados pelos oceanos
não tinham nada além
de pequenas fotos um do outro
menores que as fotos
do passaporte
a dela ficou num
broche de ouro
a dele guardada na
carteira
no fim do dia
quando os dois mundos
ficavam mudos
observar as fotos era
o único contato íntimo
isso era muito antes
dos computadores
e as famílias naquela
parte do mundo
não tinham visto um
telefone ou colocado
os olhos amendoados
numa televisão colorida
era muito antes de
você e eu
quando as rodas do
avião tocaram o asfalto
ela se perguntou se o
lugar era esse
será que tinha
embarcado no voo certo
devia ter perguntado
à comissária duas vezes
como o marido tinha
sugerido
no caminho até a
esteira da bagagem
seu coração batia tão
carregado
que ela pensou que ia
sair pela boca
os olhos corriam por
todo canto
à procura do próximo
passo
de repente
ali mesmo
em carne e osso
estava ele
não era miragem − era
um homem
primeiro veio o
alívio
depois o espanto
por anos sonharam com
esse reencontro
tinham ensaiado os diálogos
mas a boca tinha
esquecido
ela sentiu um chute
no estômago
ao ver as sombras em
volta de seus olhos
e os ombros
carregando um peso invisível
parecia que tinham
drenado sua vida por dentro
aonde a pessoa com
quem casou tinha ido
ela se perguntava
procurando o broche
dourado
aquele com a foto do
homem
que não tinha a mesma
cara do marido
Referências:
Em Inglês
KAUR, Rupi. the new
world had drained him. In: __________. the sun and her flowers. 1st. ed.
New York, N.Y.: Simon & Schuster, 2017. p. 140-141.
Em Português
KAUR, Rupi. o novo
mundo o esvaziou. Tradução de Ana Guadalupe. In: __________. o que o sol faz
com as flores. Tradução de Ana Guadalupe. 6. ed. São Paulo, SP: Planeta do
Brasil, 2018. p. 140-141.
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