Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Ezra Pound - Uma Jovem

Em duas pequenas estrofes, cujos versos sedimentam-se a partir de distintos pontos de vista − um dos quais (o primeiro) a encetar interpretações fundadas na lenda de Dafne e Apolo −, este poema diz muito sobre o que se passa na mente de um poeta imaginoso: apesar das mudanças no corpo da jovem − uma espécie de árvore em pleno crescimento −, o falante ainda a vê como uma criança, apesar da altura com que já conta.

E, diante de tamanha beleza, o ente que enuncia a segunda estrofe revela certo desconcerto ao reconhecer que o mundo dela se acerca como se “loucura” fosse. Mas não é que não seja mesmo assim, pois daí a pouco, a jovem passará a se comportar como a moça do “Xote das Meninas”, de Luiz Gonzaga e Zé Dantas, “doente” de uma enfermidade para a qual remédio algum há na medicina: o amor que lhe chega, como na florada do mandacaru a prenunciar chuva no sertão! (rs)

J.A.R. – H.C.

 

Ezra Pound

(1885-1972)

 

A Girl

 

The tree has entered my hands,

The sap has ascended my arms,

The tree has grown in my breast −

Downward,

The branches grow out of me, like arms.

 

Tree you are,

Moss you are,

You are violets with wind above them.

A child − so high − you are,

And all this is folly to the world.

 

Chá da tarde em Paris

(Konstantin Razumov: pintor russo)

 

Uma Jovem

 

A árvore transpôs-me as mãos,

A seiva subiu-me pelos braços,

A árvore expandiu-se em meu peito –

Para baixo,

Os ramos vicejam de mim, como braços.

 

Árvore sois,

Musgo sois,

Sois violetas agitadas pelo vento.

Uma criança – tão alta – sois.

E tudo isso é desatino para o mundo.       


Referência:

POUND, Ezra. A girl. In: __________. Ezra Pound’s poetry and prose. Contributions to periodicals in ten volumes. Volume I: 1902-1914 (C0-C167). New York (NY) & London (EN): Garland Publishing Inc., 1991. p. 150-151.

Nenhum comentário:

Postar um comentário