Alpes Literários

Alpes Literários

Subtítulo

UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Ernesto Cardenal - “...As riquezas injustas”

Desde o momento em que, nos primórdios do capitalismo, um determinado senhor, com o poder das armas, deu início à política de cercamentos em terras britânicas, passou-se a justificar de modos transversos a propriedade e a posse de imensas riquezas por parte de uma minoria, enquanto a maioria, aqui como alhures, permanece à míngua.

Não sem motivos, o pensador francês Pierre-Joseph Proudhon (1809-1865), em sua obra “Qu’est-ce que la proprieté?” (“O que é a propriedade?”), de 1840, replica à indagação afirmando que toda propriedade é um roubo! Radical ou não tal assertiva, o certo é que, num plano tangível, chegar-se ao ponto onde Pindorama aportou, com uma enorme massa de favelas em qualquer grande cidade do país, retrata a falência moral de sua classe dirigente, ainda amparada na antinomia “Casa-Grande x Senzala”.

J.A.R. – H.C.

Ernesto Cardenal
(1925-2020)

“...Las riquezas injustas”
(Lucas 16,9)

Y en cuanto a las riquezas, pues, justas o injustas,
los bienes bien o mal adquiridos: 
Toda riqueza es injusta.
Todo bien, 
mal adquirido.
Si no por ti, por otros.
Tú puedes tener la escritura correcta. Pero
¿compraste la hacienda a su legítimo dueño?
¿Y él la compró a su dueño? ¿Y el otro…? Etc., etc.
Podrías remontar el título hasta un título real 
pero
¿fue del Rey alguna vez?
¿No se despojó alguna vez a alguno?
Y el dinero que recibes legítimamente ahora
de tu cliente, del Banco, del Tesoro Nacional
o del Tesoro de USA
¿no fue alguna vez mal adquirido?  Pero
no creáis tampoco que en el Estado Comunista Perfecto
las palabras de Cristo ya estarán anticuadas
y Lucas 16,9 ya no tendrá validez 
y ya no serán INJUSTAS las riquezas
y ya no tendréis la obligación de repartir las riquezas.

Foliões no entrudo
(Frans Hals: pintor holandês)

“...As riquezas injustas”
(Lucas 16, 9)

E quanto às riquezas, pois, justas ou injustas
os bens adquiridos bem ou mal:
Toda riqueza é injusta.
Todo bem,
mal adquirido.
Senão por ti, pelos outros.
Tu podes ter a documentação perfeita. Mas
compraste a fazenda a seu legítimo dono?
E ele a comprou a seu dono? E o outro…? Etc., etc.
Poderias retroceder a teu título até a um título real
porém
foi do Rei alguma vez?
Não se desapropriou alguma vez a alguém?
E o dinheiro que recebes legitimamente agora
de teu cliente, do Banco, do Tesouro Nacional
ou do Tesouro de USA
não foi alguma vez mal adquirido? Mas
tampouco penseis que no Estado Comunista Perfeito
as parábolas de Cristo já estejam antiquadas
e Lucas 16,9 já não tenha validez
e que já não são INJUSTAS as riquezas
e que já não tenhas a obrigação de reparti-las!

Referências:

Em Espanhol

CARDENAL, Ernesto. “...Las riquezas injustas. In: MONDRAGÓN, Sergio; RANDALL, Margaret (Eds.). El corno emplumado / The plumed horn. México, DF, n. 3, jul. 1962. p. 61. Disponível neste endereço. Acesso em: 27 jul. 2020.

Em Português

CARDENAL, Ernesto. “...As riquezas injustas”. Tradução de Paulo de Carvalho Neto. In: __________. As riquezas injustas: antologia poética. Seleção e tradução de Paulo de Carvalho Neto. 2. ed. São Paulo, SP: Círculo do Livro, 1982. p. 111. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário