Desde o momento em que, nos primórdios
do capitalismo, um determinado senhor, com o poder das armas, deu início à política
de cercamentos em terras britânicas, passou-se a justificar de modos transversos
a propriedade e a posse de imensas riquezas por parte de uma minoria, enquanto
a maioria, aqui como alhures, permanece à míngua.
Não sem motivos, o pensador francês Pierre-Joseph
Proudhon (1809-1865), em sua obra “Qu’est-ce que la proprieté?” (“O que é a
propriedade?”), de 1840, replica à indagação afirmando que toda propriedade é
um roubo! Radical ou não tal assertiva, o certo é que, num plano tangível,
chegar-se ao ponto onde Pindorama aportou, com uma enorme massa de favelas em
qualquer grande cidade do país, retrata a falência moral de sua classe
dirigente, ainda amparada na antinomia “Casa-Grande x Senzala”.
J.A.R. – H.C.
Ernesto Cardenal
(1925-2020)
“...Las riquezas
injustas”
(Lucas 16,9)
Y en cuanto a las
riquezas, pues, justas o injustas,
los bienes bien o mal
adquiridos:
Toda riqueza es
injusta.
Todo bien,
mal adquirido.
Si no por ti, por
otros.
Tú puedes tener la
escritura correcta. Pero
¿compraste la hacienda
a su legítimo dueño?
¿Y él la compró a su
dueño? ¿Y el otro…? Etc., etc.
Podrías remontar el
título hasta un título real
pero
¿fue del Rey alguna
vez?
¿No se despojó alguna
vez a alguno?
Y el dinero que
recibes legítimamente ahora
de tu cliente, del
Banco, del Tesoro Nacional
o del Tesoro de USA
¿no fue alguna vez mal
adquirido? Pero
no creáis tampoco que
en el Estado Comunista Perfecto
las palabras de
Cristo ya estarán anticuadas
y Lucas 16,9 ya no
tendrá validez
y ya no serán
INJUSTAS las riquezas
y ya no tendréis la
obligación de repartir las riquezas.
Foliões no entrudo
(Frans Hals: pintor
holandês)
“...As riquezas
injustas”
(Lucas 16, 9)
E quanto às riquezas,
pois, justas ou injustas
os bens adquiridos
bem ou mal:
Toda riqueza é
injusta.
Todo bem,
mal adquirido.
Senão por ti, pelos
outros.
Tu podes ter a
documentação perfeita. Mas
compraste a fazenda a
seu legítimo dono?
E ele a comprou a seu
dono? E o outro…? Etc., etc.
Poderias retroceder a
teu título até a um título real
porém
foi do Rei alguma
vez?
Não se desapropriou
alguma vez a alguém?
E o dinheiro que
recebes legitimamente agora
de teu cliente, do
Banco, do Tesouro Nacional
ou do Tesouro de USA
não foi alguma vez
mal adquirido? Mas
tampouco penseis que
no Estado Comunista Perfeito
as parábolas de
Cristo já estejam antiquadas
e Lucas 16,9 já não
tenha validez
e que já não são
INJUSTAS as riquezas
e que já não tenhas a
obrigação de reparti-las!
Referências:
Em Espanhol
CARDENAL, Ernesto. “...Las riquezas
injustas. In: MONDRAGÓN, Sergio; RANDALL, Margaret (Eds.). El corno
emplumado / The plumed horn. México, DF, n. 3, jul. 1962. p. 61. Disponível
neste endereço. Acesso em: 27 jul. 2020.
Em Português
CARDENAL, Ernesto. “...As riquezas
injustas”. Tradução de Paulo de Carvalho Neto. In: __________. As riquezas injustas:
antologia poética. Seleção e tradução de Paulo de Carvalho Neto. 2. ed. São
Paulo, SP: Círculo do Livro, 1982. p. 111.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário