Muita intuição se percebe na “Pax” caseira
de Lawrence, onde um bichano vive em sintonia com o seu dono (ou dona) e o Deus
da Vida, muito embora o propósito do poeta seja, induvidosamente, alcançar a
ideia de uma “Pax” universal, segura e calma, com o potencial de pôr em equilíbrio
e sintonia toda a criação − ou por outra, sem contradições, no caso da
humanidade, entre instintos e intelecto.
Em nossa “infinita reserva de
possibilidades”, cabe a cada um ultrapassar as limitações impostas pelo
egocentrismo ou mesmo pelo solipsismo, para que, todos juntos, possamos criar
um “mundo novo”: “Os homens devem aprender a servir não ao dinheiro, mas à
vida. (...) O homem somente é perfeitamente humano quando é capaz de olhar além
da humanidade!”, pondera Lawrence (2002, p. 542), em um de seus mais sublimes “Pansies” (“Pensamentos”).
J.A.R. – H.C.
D. H. Lawrence
(1885-1930)
Pax
All that matters is
to be at one with the living God
to be a creature in
the house of the God of Life.
Like a cat asleep on
a chair
at peace, in peace
and at one with the
master of the house, with the mistress,
at home, at home in
the house of the living,
sleeping on the
hearth, and yawning before the fire.
Sleeping on the
hearth of the living world
yawning at home
before the fire of life
feeling the presence
of the living God
like a great
reassurance
a deep calm in the
heart
a presence
as of the master
sitting at the board
in his own and
greater being,
in the house of life.
In: “Last poems” (1932)
O orgulho de Dijon
(William J. Hennessy:
pintor irlandês)
Pax
Tudo o que importa é
estar em paz com o Deus vivo,
ser uma criatura na
morada do Deus da vida.
Como um gato dormindo
na cadeira
em paz, tão em paz,
de bem com o dono da
casa, com a dona,
em casa, à vontade,
na casa dos vivos,
dormindo junto à
lareira, bocejando ao pé do fogo.
Dormindo junto à
lareira do mundo vivo,
bocejando no lar ao
pé do fogo da vida,
sentindo a presença
do Deus vivo
como uma imensa
segurança,
profunda calma no
coração,
uma presença,
como a do dono da
casa, sentado à mesa
na plenitude de seu
ser,
na morada da vida.
Em: “Últimos poemas” (1932)
Referências:
LAWRENCE, D. H. Pax / Pax. Tradução de Aíla
de Oliveira Gomes. In: __________. Alguma
poesia. Seleção, tradução e introdução de Aíla de Oliveira Gomes. Edição
bilíngue. São Paulo, SP: T. A. Queiroz, 1991. Em inglês: p. 184; em português:
p. 185. (‘Biblioteca de Letras e Ciências Humanas’; série 2ª, textos; v. 6)
LAWRENCE, D. H. Service. In: __________.
The complete poems of D. H. Lawrence. Whit an introduction and notes by
David Ellis. Ware, HE (EN): Wordsworth Editions, 2002. (‘The Wordsworth
Poetry Library’)
ö
Nenhum comentário:
Postar um comentário