Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Gwendolyn MacEwen - Pinheiros Escuros Sob a Água

Segundo a poetisa canadense, somos como aquele que passa a vida em um sono, pois o modo de se conhecer a si mesmo furta-se à racionalidade do mundo concebido pelo homem, manifestando-se por meio de um conhecimento mais primário e elementar, presente nos abismos de nossa mente, à espera de que, nalgum dia, venha a se revelar num plano que nos seja decifrável.

Trata-se de uma exploração que, apesar de se pretender “epifânica”, não é menos dolorosa, pois o que está sob as águas pode se mostrar ainda mais pesaroso e dominante do que está por cima, como num icebergue ou na metáfora que se lhe associa pela canção “Balada do Lado Sem Luz”, de autoria de Gilberto Gil e sucesso na voz de Maria Bethânia.

J.A.R. – H.C.

Gwendolyn MacEwen
(1941-1987)

Dark Pines Under Water

This land like a mirror turns you inward
And you become a forest in a furtive lake;
The dark pines of your mind reach downward,
You dream in the green of your time,
Your memory is a row of sinking pines.

Explorer, you tell yourself, this is not what you came for
Although it is good here, and green.
You had meant to move with a kind of largeness,
You had planned a heavy grace, an anguished dream.

But the dark pines of your mind dip deeper
And you are sinking, sinking, sleeper
In an elementary world;
There is something down there and you want it told.

In: “The Shadow-Maker” (1969)

Navegando ao longo de um rio
(William Moore Davis: pintor norte-americano)

Pinheiros Escuros Sob a Água

Esta terra como um espelho vira-te para dentro
E convertes-te numa floresta em um lago furtivo;
Os pinheiros escuros de tua mente medram para baixo,
Sonhas com o verde dos teus dias,
Tua memória é uma fileira de pinheiros a submergir.

Explorador, dizes a ti mesmo, não foi para isto que vieste,
Ainda que seja bom aqui, e verde.
Cogitavas mover-te com uma espécie de magnanimidade,
Havias planejado uma intensa graça, um sonho angustiado.

Mas os pinheiros escuros de tua mente submergem mais fundo
E estás a imergir, imergir, adormecido
Em um mundo elementar;
Há algo lá embaixo e queres que se manifeste.

Em: “O Criador de Sombras” (1969)

Referência:

MacEWEN, Gwendolyn. Dark pines under water. In: __________. Volume one: the early years. Edited by Margaret Atwood and Barry Callaghan. Introduction and introductory notes by Margaret Atwood. Second printing. Toronto, ON (CA): Exile Editions, 2002. p. 156.

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