“Nunca contentar-se de contente” é o
amor, já dizia o vate lusitano. E sobre o sentimento já correram rios de linhas
dos mais distintos matizes – irônicos, sarcásticos, devastadores ou atilados −,
todos a confluir a um oceano que abarca, como também na metáfora de Stendhal, a
“mais alta febre da existência”, uma quimera que atrai “seres alados” até a “orla
do oceano da beleza universal”.
Há quem o pondere mais desconfiadamente:
C. S. Lewis via-o como um investimento não seguro, pleno de vulnerabilidades. Ou
o subtraia à visão, como Shakespeare, a afirmar que o amor não olha com os
olhos, mas com a mente. E neste caso, há um embate com o ponto de vista do
autor paraense: Loureiro afirma que não há outro lugar que o sinta mais
presente do que nos “vagos-lumes” do olhar da amada, logo pressupõe-se que
esteja com os olhos bem abertos!
J.A.R. – H.C.
João de Jesus Paes
Loureiro
(n. 1939)
Amor
Esse pássaro que
passa
voando nas asas
da luz do sol
é como se levasse meu
destino,
como se fosse
a despregada vela
desta manhã navegante
ou breve acenar de
uma quimera.
O amor até que pode
ser
um voo de pássaro
no mais alto do ser,
na mais alta febre da
existência.
Pode ser coisa de
seres
alados, leves
na orla do oceano da
beleza universal.
Pode ser.
Mas, onde mais o
sinto
é quando reluz nos
vagos-lumes do teu olhar...
Vitória-régia da
Amazônia
(Sandra Filardi:
pintora brasileira)
Referência:
LOUREIRO, João de Jesus Paes. Amor. In:
__________. O ser aberto: poesia. Belém, PA: Cultural Brasil &
CEJUP, 1991. p. 61.
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