Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 22 de setembro de 2020

João Cabral de Melo Neto - Poesia

Cabral nos fala da “atmosfera sobrenatural” da poesia, que subjaz à tangibilidade das coisas visíveis, cujas vozes serão sobrepujadas por uma “voz imensa” que “dorme no mistério” do mundo, essa voz que aspira por expressar o quanto de inopinado, de surpreendente e de aleatório nele subsiste, a revelar o sublime que paira no inefável, no infinito e no eterno.

Diga-se que, por mais que alguns poemas revelem um tipo de poesia pautado pela racionalidade e pela lógica, a poesia não tem a ambas como condição ‘sine qua non’ para a sua existência, uma vez que se caracteriza por ser uma forma “iluminadora” de apreensão da realidade, uma tentativa de capturar o que denota ser, por natureza, inexplicável ou incomensurável: logo, valem o inconsciente e o intuitivo como formas de prospectar essa vasta e semi-inescrutável plataforma da poesia.

J.A.R. – H.C.

João Cabral de Melo Neto
(1920-1999)

Poesia

Deixa falar todas as coisas visíveis
deixa falar a aparência das coisas que vivem no tempo
deixa, suas vozes serão abafadas.
A voz imensa que dorme no mistério sufocará a todas.
Deixa, que tudo só frutificará
na atmosfera sobrenatural da poesia.

(1937)

Em: “Primeiros Poemas” (1990)

Lady Macbeth
(Johann Heinrich Füssli: pintor suíço)

Referência:

MELO NETO, João Cabral de. Poesia. In: __________. Selected poetry: 1937-1990. Edited by Djelal Kadir. A blingual edition: Potuguese x English. Publisher by University Press of New England. Hanover, NH: Wesleyan University Press, 1994. p. 6.

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