O ente lírico, depois de uma “longa e
tenebrosa” ausência, retorna à casa paterna, onde revive lembranças da mãe e
das irmãs... e cai em prantos: não se diz, mas pressupõe-se que, pelo menos, os
pais já não estejam entre os vivos e isso lhe traz à boca um sabor de saudade
dos ternos momentos ali vividos, em companhia dos entes queridos.
Há certa frequência em tais ocorrências:
quase sempre em famílias mais ou menos numerosas, depois de falecidos os pais, os
filhos encaminhados aos destinos, longe ou perto, que lhes trouxe a vida, a casa
dos pais vem a ser herdada por um do(a)s descendentes, geralmente aquele(a)
mais ligado às experiências do passado, num esforço de preservação da história
familiar.
J.A.R. – H.C.
Guimarães Júnior
(1847-1898)
Visita à casa paterna
Como a ave que volta
ao ninho antigo,
Depois de um longo e
tenebroso inverno,
Eu quis também rever
o lar paterno,
O meu primeiro e
virginal abrigo.
Entrei. Um gênio
carinhoso e amigo,
O fantasma, talvez,
do amor materno,
Tomou-me as mãos,
olhou-me grave e terno,
E passo a passo caminhou
comigo.
Era esta a sala....
(Oh! se me lembro, e quanto!)
Em que, da luz
noturna à claridade...
Minhas irmãs e minha
mãe... O pranto
Jorrou-me em ondas...
Resistir quem há de?
Uma ilusão gemia em
cada canto,
Chorava em cada canto
uma saudade.
Minha casa paterna
(Vicky Andriotis:
pintora grega)
Referência:
GUIMARÃES JÚNIOR, Luiz Caetano Pereira.
Visita à casa paterna. In: OLIVEIRA, Alberto de (Edição e seleção). Páginas
de ouro da poesia brasileira. Rio de Janeiro: H. Harnier, 1911. p. 302.
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