A constar numa obra que faz referência
ao rio Sar, cujas nascentes localizam-se perto da cidade onde a poetisa nasceu −
Santiago de Compostela (ES) −, este poema reflete o espírito sonhador dos
poetas e poetisas, de Rosalía em específico, uma “incurável sonâmbula”, sempre
a aspirar pela “eterna primavera da vida e dos campos”, a despeito de os fatos
apontarem, realmente, para uma perspectiva invernal.
Pouco importa: é o que se passa na
mente da poetisa que conta como realidade, digam o que disserem os que ficam à
margem, a sussurrar sobre a sua hipotética loucura, porque loucos todos somos,
em maior ou menor escala. E o melhor é ver um cenário colorido e criativo às
misérias da vida − digo melhor, ser um otimista −, pois assim se poderá manter,
com maior probabilidade, a sanidade mental!
J.A.R. – H.C.
Rosalía de Castro
(1837-1885)
Dicen que no hablan
las plantas...
Dicen que no hablan
las plantas, ni las fuentes, ni los pájaros,
ni el onda con sus
rumores, ni con su brillo los astros,
lo dicen, pero no es
cierto, pues siempre cuando yo paso,
de mí murmuran y
exclaman:
− Ahí va la loca
soñando
con la eterna
primavera de la vida y de los campos,
y ya bien pronto,
bien pronto, tendrá los cabellos canos,
y ve temblando,
aterida, que cubre la escarcha el prado.
− Hay canas en mi
cabeza, hay en los prados escarcha,
mas yo prosigo
soñando, pobre, incurable sonámbula,
con la eterna
primavera de la vida que se apaga
y la perenne frescura
de los campos y las almas,
aunque los unos se
agostan y aunque las otras se abrasan.
Astros y fuentes y
flores, no murmuréis de mis sueños;
sin ellos, ¿cómo
admiraros, ni cómo vivir sin ellos?
En: “En las Orillas
del Sar” (1884)
Fonte com pássaros
num jardim florido
(Crista Forest:
artista norte-americana)
Dizem que as plantas
não falam...
Dizem que as plantas
não falam, nem as fontes, nem os pássaros,
nem a onda com seus
rumores, nem as estrelas com seu brilho,
dizem-no, mas não é
verdade, pois, sempre quando passo,
sussurram sobre mim e
exclamam:
− Lá vai a louca
sonhando
com a eterna
primavera da vida e dos campos,
e sem tardar, muito
em breve, terá encanecidos os cabelos,
e tiritando,
enregelada, há de ver que a geada já cobre o prado.
− Há cãs em minha
cabeça, há geada sobre os prados,
mas continuo a
sonhar, pobre, incurável sonâmbula,
com a eterna
primavera da vida que se apaga
e a perene frescura
dos campos e das almas,
mesmo que estas se queimem e aqueles ressequem.
Estrelas e fontes e
flores, não sussurreis de meus sonhos;
sem eles, como
poderei admirá-las ou continuar a viver?
Em: “Às Margens do
Sar” (1884)
Referência:
CASTRO, Rosalía de. Dicen que no hablan
las plantas... In: __________. Obra poética. Estudio y selección de
Augusto Cortina. Quinta edición. Madrid, ES: Espasa-Calpe, 1963. p. 152. (‘Colección
Austral’; n. 243).
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