Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Rosalía de Castro - Dizem que as plantas não falam...

A constar numa obra que faz referência ao rio Sar, cujas nascentes localizam-se perto da cidade onde a poetisa nasceu − Santiago de Compostela (ES) −, este poema reflete o espírito sonhador dos poetas e poetisas, de Rosalía em específico, uma “incurável sonâmbula”, sempre a aspirar pela “eterna primavera da vida e dos campos”, a despeito de os fatos apontarem, realmente, para uma perspectiva invernal.

Pouco importa: é o que se passa na mente da poetisa que conta como realidade, digam o que disserem os que ficam à margem, a sussurrar sobre a sua hipotética loucura, porque loucos todos somos, em maior ou menor escala. E o melhor é ver um cenário colorido e criativo às misérias da vida − digo melhor, ser um otimista −, pois assim se poderá manter, com maior probabilidade, a sanidade mental!

J.A.R. – H.C.

Rosalía de Castro
(1837-1885)

Dicen que no hablan las plantas...

Dicen que no hablan las plantas, ni las fuentes, ni los pájaros,
ni el onda con sus rumores, ni con su brillo los astros,
lo dicen, pero no es cierto, pues siempre cuando yo paso,
de mí murmuran y exclaman:
− Ahí va la loca soñando
con la eterna primavera de la vida y de los campos,
y ya bien pronto, bien pronto, tendrá los cabellos canos,
y ve temblando, aterida, que cubre la escarcha el prado.

− Hay canas en mi cabeza, hay en los prados escarcha,
mas yo prosigo soñando, pobre, incurable sonámbula,
con la eterna primavera de la vida que se apaga
y la perenne frescura de los campos y las almas,
aunque los unos se agostan y aunque las otras se abrasan.

Astros y fuentes y flores, no murmuréis de mis sueños;
sin ellos, ¿cómo admiraros, ni cómo vivir sin ellos?

En: “En las Orillas del Sar” (1884)

Fonte com pássaros num jardim florido
(Crista Forest: artista norte-americana)

Dizem que as plantas não falam...

Dizem que as plantas não falam, nem as fontes, nem os pássaros,
nem a onda com seus rumores, nem as estrelas com seu brilho,
dizem-no, mas não é verdade, pois, sempre quando passo,
sussurram sobre mim e exclamam:
− Lá vai a louca sonhando
com a eterna primavera da vida e dos campos,
e sem tardar, muito em breve, terá encanecidos os cabelos,
e tiritando, enregelada, há de ver que a geada já cobre o prado.

− Há cãs em minha cabeça, há geada sobre os prados,
mas continuo a sonhar, pobre, incurável sonâmbula,
com a eterna primavera da vida que se apaga
e a perene frescura dos campos e das almas,
mesmo que estas se queimem e aqueles ressequem.

Estrelas e fontes e flores, não sussurreis de meus sonhos;
sem eles, como poderei admirá-las ou continuar a viver?

Em: “Às Margens do Sar” (1884)

Referência:

CASTRO, Rosalía de. Dicen que no hablan las plantas... In: __________. Obra poética. Estudio y selección de Augusto Cortina. Quinta edición. Madrid, ES: Espasa-Calpe, 1963. p. 152. (‘Colección Austral’; n. 243).

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