Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 20 de setembro de 2020

Haris Vlavianos - Retrato de um jovem como um miserável poeta

Embora um pouco longo para uma postagem – afinal, são ao todo quatro seções que dão sequência à narrativa do sucedido com um jovem e miserável poeta −, este poema do grego Vlavianos vale a pena ser lido na íntegra, diante de suas espirituosas modulações, afora o fato de que o seu título leva-nos à associação, de uma forma ou de outra, à obra “Retrato do artista quando jovem”, romance autobiográfico publicado em 1916, pelo irlandês James Joyce.

Na penúltima seção sabe-se que o poeta ainda mantém contato com suas antigas amantes, que lhe dizem que os novos parceiros, com quem têm filhos e casas de campo em estações aprazíveis, amam-nas de verdade, enunciados que se convertem sarcasticamente na mente do ente lírico em: “Mas isso não é amor, / é conta corrente conjunta”.

Por fim, numa tentativa de mitigar a insuportável dor por que passa, lança-se a ler, nos pequenos cafés da praça, um romance qualquer de um autor russo já falecido: escolhe “Oblómov”, de Ivan Gontcharóv, um personagem bonachão que mal tem coragem para se levantar do sofá para fazer qualquer ação, sequer em proveito próprio, como atos de administração das herdades que legara de seus ascendentes.

J.A.R. – H.C.

Haris Vlavianos
(n. 1957)

Portrait of a young man as a miserable poet
[γ σχεδίασμα/ελληνική εκδοχή]

όπως τον φαντάστηκε ο J. S.

1.

Ντύνεται πάντοτε κομψά.
Φοράει μπλε σταυρωτά κουστούμια
με ανοιχτόχρωμα πουκάμισα και κόκκινες γραβάτες.
Είναι αυτός που φτάνει τελευταίος στα dinner-parties
και περπατάει μόνος στον κήπο του σπιτιού
παρακολουθώντας από μακριά τα ζευγάρια να χαριεντίζονται
και τους σερβιτόρους να φλερτάρουν διακριτικά
τα ψηλόλιγνα κοριτσάκια με τις χρυσές ανταύγειες και τα mules.

2.

Οι άντρες
αχύσαρκα ανθρωποειδή
με την καλλιέργεια του Ντάφυ Ντακ και τους τρόπους του Λόρδου Χάλιφαξ)
συζητούν για τι άλλο; την άνοδο των επιχειρηματικών επιτοκίων,
ενώ οι ανορθωμένες συμβίες τους
για το λαμπρό μέλλον των τέκνων τους
Οξφόρδη, Χάρβαρντ, Σορβόννη.

Τον πλησιάζει με τρόπο η κυρία Κ. (με την αστραφτερή κόρη της Μ.)
αμφότερες σεσημασμένες μουσόπληκτες
Ζητώντας επίμονα να μάθουν
«τι γράφει τώρα».
«Τίποτα», απαντάει ξερά
και κατευθύνεται (τρέχοντας σχεδόν) στην αίθουσα του μπιλιάρδου,
αδειάζοντας καθ οδόν μισό ποτήρι ουίσκι
στη φωταγωγημένη πισίνα.

3.

Στο δωμάτιο το ανθοδοχείο είναι γεμάτο πασχαλιές.
Αύριο έχει λαϊκή και Βασιλόπουλο
μην ξεχάσει τ απορρυπαντικά και το βερνίκι για τα παπούτσια.
Η Ουκρανή οικονόμος (ξανθός άγγελος εξ ουρανού)
του λέει να μην απελπίζετα
«αφού στο τέλος όλα τακτοποιούνται».
Όπως οι παλιές του ερωμένες
καλοπαντρεμένες, με δυο-τρία κουτσούβελα
και εξοχικό στην Άνδρο / Τήνο / Μύκονο.
«Με αγαπάει πραγματικά!» του λένε
κάθε φορά που τους τηλεφωνεί για να ευχηθεί.
Αλλά αυτό δεν είναι αγάπη,
είναι κοινός τραπεζικός λογαριασμός,
ψιθυρίζει εκείνος.

4.

Κάθεται σ ένα από τα μικρά καφέ της Πλατείας.
Μόνος,
διαβάζοντας ένα πληκτικό μυθιστόρημα.
Θα έπρεπε να έχει θυμηθεί το dictum:
«όταν είσαι σε δίλημμα
ένας νεκρός Ρώσος συγγραφέας
είναι πάντοτε η πιο ενδεδειγμένη λύση».
Νιώθει σαν τον Ομπλόμοφ,
λίγο πριν από τη στιχομυθία της οριστικής απόρριψης.
Κάποτε
ριν από μία εβδομάδα;
τρεις μήνες;
δέκα χρόνια;)
κάποιος τον πλήγωσε βαθιά.
Ο πόνος είναι αφόρητος.

São Jorge e o Dragão
(Odilon Redon: pintor francês)

Portrait of a young man as a miserable poet
[3º esboço/versão grega]

… como o imaginou J. S.

1.

Veste-se sempre com elegância.
Usa trajes azuis cruzados
com camisas claras e gravatas vermelhas.
É aquele que chega por último nas dinner-parties
e passeia sozinho pelo jardim da casa
acompanhando de longe os casais namorando
e os garçons flertando discretamente
com as esbeltas garotas de reflexos dourados e mules.

2.
Os homens
(humanoides obesos
com a cultura de um Patolino e as maneiras de um Lorde Halifax)
discutem – sobre o que mais? – a subida das taxas de juros dos negócios,
enquanto suas esposas restauradas
sobre o futuro brilhante de seus filhos –
Oxford, Harvard, Sorbonne.

Achega-se educadamente a senhora K. (com sua reluzente filha M.)
– ambas marcadas pelas musas –
querendo insistentemente saber
“o que escreve agora”.
“Nada”, responde ríspido
e se dirige (quase correndo) à sala de bilhar,
esvaziando no caminho meio copo de uísque
na piscina iluminada.

3.

No quarto o vaso de flores está cheio de lilases.
Amanhã tem feira e Vassilopoulos –
que não esqueça o detergente e a graxa para os sapatos.
A governanta ucraniana (anjo loiro do céu)
lhe diz para que não se desespere
“no final tudo se ajeita”.
Como suas antigas amantes –
bem-casadas, com duas ou três crianças
e casa de campo em Andros / Tinos / Mykonos.
“Me ama de verdade!” lhe dizem
cada vez que lhes telefona para parabenizar.
Mas isso não é amor,
é conta corrente conjunta,
ele sussurra.

4.
Senta-se em um dos pequenos cafés da Praça.
Sozinho,
lendo um romance tedioso.
Deveria lembrar-se do dictum:
“quando tens um dilema
um escritor Russo morto
é sempre a solução mais apropriada”.
Sente-se como Oblómov,
pouco antes do diálogo da rejeição final.
Outrora
(há uma semana?
três meses?
dez anos?)
alguém o feriu profundamente.
A dor é insuportável.

Referência:

VLAVIANOS, Haris. Portrait of a young man as a miserable poet. Tradução do grego por Miguel Sulis. In: SULIS, Miguel. Διακοπεσ στην πραγματικοτητα / Férias na realidade. (n.t.) Revista Literária em Tradução. Florianópolis, SC. Edição bilíngue semestral, ano 6, n. 10, 1º vol., jun. 2015. Em grego: p. 111-114; Em português: p. 130-133. Disponível neste endereço. Acesso em 29 jun. 2020.

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