Embora um pouco longo para uma postagem
– afinal, são ao todo quatro seções que dão sequência à narrativa do sucedido
com um jovem e miserável poeta −, este poema do grego Vlavianos vale a pena ser
lido na íntegra, diante de suas espirituosas modulações, afora o fato de que o
seu título leva-nos à associação, de uma forma ou de outra, à obra “Retrato do
artista quando jovem”, romance autobiográfico publicado em 1916, pelo irlandês
James Joyce.
Na penúltima seção sabe-se que o poeta
ainda mantém contato com suas antigas amantes, que lhe dizem que os novos parceiros,
com quem têm filhos e casas de campo em estações aprazíveis, amam-nas de
verdade, enunciados que se convertem sarcasticamente na mente do ente lírico em:
“Mas isso não é amor, / é conta corrente conjunta”.
Por fim, numa tentativa de mitigar a insuportável
dor por que passa, lança-se a ler, nos pequenos cafés da praça, um romance
qualquer de um autor russo já falecido: escolhe “Oblómov”, de Ivan Gontcharóv,
um personagem bonachão que mal tem coragem para se levantar do sofá para fazer
qualquer ação, sequer em proveito próprio, como atos de administração das herdades
que legara de seus ascendentes.
J.A.R. – H.C.
Haris Vlavianos
(n. 1957)
Portrait of a young
man as a miserable poet
[γ’ σχεδίασμα/ελληνική εκδοχή]
…όπως τον φαντάστηκε ο J. S.
1.
Ντύνεται πάντοτε κομψά.
Φοράει μπλε σταυρωτά κουστούμια
με ανοιχτόχρωμα πουκάμισα και κόκκινες γραβάτες.
Είναι αυτός που φτάνει τελευταίος στα dinner-parties
και περπατάει μόνος στον κήπο του σπιτιού
παρακολουθώντας από μακριά τα ζευγάρια να χαριεντίζονται
και τους σερβιτόρους να φλερτάρουν διακριτικά
τα ψηλόλιγνα κοριτσάκια με τις χρυσές ανταύγειες και τα mules.
2.
Οι άντρες
(παχύσαρκα ανθρωποειδή
με την καλλιέργεια του Ντάφυ Ντακ και τους τρόπους του Λόρδου Χάλιφαξ)
συζητούν – για τι άλλο; – την άνοδο των επιχειρηματικών επιτοκίων,
ενώ οι ανορθωμένες συμβίες τους
για το λαμπρό μέλλον των τέκνων τους –
Οξφόρδη, Χάρβαρντ, Σορβόννη.
Τον πλησιάζει με τρόπο η κυρία Κ. (με την αστραφτερή κόρη της Μ.)
– αμφότερες σεσημασμένες μουσόπληκτες –
Ζητώντας επίμονα να μάθουν
«τι γράφει τώρα».
«Τίποτα», απαντάει ξερά
και κατευθύνεται (τρέχοντας σχεδόν) στην αίθουσα του μπιλιάρδου,
αδειάζοντας καθ’ οδόν μισό ποτήρι ουίσκι
στη φωταγωγημένη πισίνα.
3.
Στο δωμάτιο το ανθοδοχείο είναι γεμάτο πασχαλιές.
Αύριο έχει λαϊκή και Βασιλόπουλο –
μην ξεχάσει τ’ απορρυπαντικά και το βερνίκι για τα παπούτσια.
Η Ουκρανή οικονόμος (ξανθός άγγελος εξ ουρανού)
του λέει να μην απελπίζετα
«αφού στο τέλος όλα τακτοποιούνται».
Όπως οι παλιές του ερωμένες –
καλοπαντρεμένες, με δυο-τρία κουτσούβελα
και εξοχικό στην Άνδρο / Τήνο / Μύκονο.
«Με αγαπάει πραγματικά!» του λένε
κάθε φορά που τους τηλεφωνεί για να ευχηθεί.
Αλλά αυτό δεν είναι αγάπη,
είναι κοινός τραπεζικός λογαριασμός,
ψιθυρίζει εκείνος.
4.
Κάθεται σ’ ένα από τα μικρά καφέ της Πλατείας.
Μόνος,
διαβάζοντας ένα πληκτικό μυθιστόρημα.
Θα έπρεπε να έχει θυμηθεί το dictum:
«όταν είσαι σε δίλημμα
ένας νεκρός Ρώσος συγγραφέας
είναι πάντοτε η πιο ενδεδειγμένη λύση».
Νιώθει σαν τον Ομπλόμοφ,
λίγο πριν από τη στιχομυθία της οριστικής απόρριψης.
Κάποτε
(πριν από μία εβδομάδα;
τρεις μήνες;
δέκα χρόνια;)
κάποιος τον πλήγωσε βαθιά.
Ο πόνος είναι αφόρητος.
São Jorge e o Dragão
(Odilon Redon: pintor
francês)
Portrait of a young
man as a miserable poet
[3º esboço/versão
grega]
… como o imaginou J.
S.
1.
Veste-se sempre com
elegância.
Usa trajes azuis
cruzados
com camisas claras e
gravatas vermelhas.
É aquele que chega
por último nas dinner-parties
e passeia sozinho
pelo jardim da casa
acompanhando de longe
os casais namorando
e os garçons
flertando discretamente
com as esbeltas
garotas de reflexos dourados e mules.
2.
Os homens
(humanoides obesos
com a cultura de um
Patolino e as maneiras de um Lorde Halifax)
discutem – sobre o
que mais? – a subida das taxas de juros dos negócios,
enquanto suas esposas
restauradas
sobre o futuro
brilhante de seus filhos –
Oxford, Harvard,
Sorbonne.
Achega-se educadamente
a senhora K. (com sua reluzente filha M.)
– ambas marcadas
pelas musas –
querendo
insistentemente saber
“o que escreve
agora”.
“Nada”, responde
ríspido
e se dirige (quase
correndo) à sala de bilhar,
esvaziando no caminho
meio copo de uísque
na piscina iluminada.
3.
No quarto o vaso de
flores está cheio de lilases.
Amanhã tem feira e
Vassilopoulos –
que não esqueça o
detergente e a graxa para os sapatos.
A governanta
ucraniana (anjo loiro do céu)
lhe diz para que não
se desespere
“no final tudo se
ajeita”.
Como suas antigas
amantes –
bem-casadas, com duas
ou três crianças
e casa de campo em
Andros / Tinos / Mykonos.
“Me ama de verdade!”
lhe dizem
cada vez que lhes
telefona para parabenizar.
Mas isso não é amor,
é conta corrente
conjunta,
ele sussurra.
4.
Senta-se em um dos
pequenos cafés da Praça.
Sozinho,
lendo um romance
tedioso.
Deveria lembrar-se do
dictum:
“quando tens um
dilema
um escritor Russo
morto
é sempre a solução
mais apropriada”.
Sente-se como
Oblómov,
pouco antes do diálogo
da rejeição final.
Outrora
(há uma semana?
três meses?
dez anos?)
alguém o feriu
profundamente.
A dor é insuportável.
Referência:
VLAVIANOS, Haris. Portrait of a young
man as a miserable poet. Tradução do grego por Miguel Sulis. In: SULIS, Miguel.
Διακοπεσ στην πραγματικοτητα / Férias na realidade. (n.t.) Revista Literária em Tradução.
Florianópolis, SC. Edição bilíngue semestral, ano 6, n. 10, 1º vol., jun. 2015.
Em grego: p. 111-114; Em português: p. 130-133. Disponível neste endereço.
Acesso em 29 jun. 2020.
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