Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 12 de setembro de 2020

Luis Palés Matos - Instantâneo

Matos, poeta porto-riquenho, oferece-nos um instantâneo, uma fotografia de como se lhe parecem as máquinas da imprensa, autênticos monstros, negros e ressumados, que, ao produzirem os textos que ficarão gravados em prosa ou verso, praticam uma espécie de “coito homérico” entre as suas chapas, tamanha a compressão com que estas se arrocham.

A imprensa, como se sabe, detém o poder da palavra, e escudada no direito à liberdade de expressão, muitas vezes vai muito além do seu dever de bem informar, tramando contra a própria Democracia, quando não vê as suas prerrogativas corporativistas satisfeitas: tal é o que ocorre com a grande mídia pátria – Globo, Estadão, Folha de São Paulo, Veja etc. −, suficientemente canalha para colocar os interesses do país em segundo plano, em favor dos seus.

J.A.R. – H.C.

Luis Palés Matos
(1898-1959)

Instantánea

Ante los máquinas de la Prensa

Ruedas enormes
mordiéndose en silencio;
palancas levantándose como brazos
de monstruos sudorosos y negros;
un escándalo de caballos detenidos
ante la súbita aparición del mistério;
planchas abriéndose y cerrándose, como quijadas
que mastican una estrofa en secreto;
mientras circula por las articuladones de la máquina
el aceite, que es la sinovia de los hierros...

Cae el papel, se cierran
las planchas separadas por un largo bostezo
y hay una ronca compresión de fuerza sobre fuerza
como en un coito homérico...
Se abren, finalmente,
con la inofensiva laxitud del placer satisfecho
y brota,
recién acuñado, como el oro, el pensamiento.
Tal debe ser
el oculto trabajo del cerebro,
cuando fija la idea
en el fondo de un párrafo o en el cuño de un verso.

En: “El palacio en sombras” (1898-1959)

Fantasmagoria do pesadelo
(Benjamin Burkard: artista alemão)

Instantâneo

Diante das máquinas da Imprensa

Rodas enormes
engrenando-se em silêncio;
alavancas erguendo-se como braços
de monstros negros e suados;
um relinchar de cavalos paralisados
diante da súbita aparição do mistério;
chapas se abrindo e fechando, como mandíbulas
que mastigam uma estrofe em segredo;
enquanto pelas articulações da máquina circula
o óleo, que é a sinóvia (*) dos ferros...

O papel cai, fecham-se
as chapas separadas por um longo bocejo
e há uma compressão rouca de força sobre força
como num coito homérico...
Abrem-se, finalmente,
com a inofensiva lassidão do prazer satisfeito
e brota,
recém-cunhado, como o ouro, o pensamento.
Tal deve ser
o oculto trabalho do cérebro,
quando fixa a ideia
no cerne de um parágrafo ou na índole de um verso.

Em: “O palácio em sombras” (1898-1959)

Nota:

(*) Sinóvia é um líquido secretado pelas membranas da superfície das cavidades articulares que lubrifica as articulações, permitindo-lhes o movimento suave e indolor.

Referência:

MATOS, Luis Palés. Instantánea. In: __________. Poesía completa y prosa selecta. Edición, prólogo y cronología por Margot Arce de Vásquez. Reimpresión de la primera edición de 1978. Caracas, VE: Ayacucho, 1988. p. 73. (‘Biblioteca Ayacucho’; v. 32)

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