Matos, poeta porto-riquenho, oferece-nos
um instantâneo, uma fotografia de como se lhe parecem as máquinas da imprensa, autênticos
monstros, negros e ressumados, que, ao produzirem os textos que ficarão
gravados em prosa ou verso, praticam uma espécie de “coito homérico” entre as
suas chapas, tamanha a compressão com que estas se arrocham.
A imprensa, como se sabe, detém o poder
da palavra, e escudada no direito à liberdade de expressão, muitas vezes vai
muito além do seu dever de bem informar, tramando contra a própria Democracia, quando
não vê as suas prerrogativas corporativistas satisfeitas: tal é o que ocorre
com a grande mídia pátria – Globo, Estadão, Folha de São Paulo, Veja etc. −,
suficientemente canalha para colocar os interesses do país em segundo plano, em
favor dos seus.
J.A.R. – H.C.
Luis Palés Matos
(1898-1959)
Instantánea
Ante los máquinas de
la Prensa
Ruedas enormes
mordiéndose en
silencio;
palancas levantándose
como brazos
de monstruos
sudorosos y negros;
un escándalo de
caballos detenidos
ante la súbita aparición
del mistério;
planchas abriéndose y
cerrándose, como quijadas
que mastican una
estrofa en secreto;
mientras circula por
las articuladones de la máquina
el aceite, que es la
sinovia de los hierros...
Cae el papel, se cierran
las planchas
separadas por un largo bostezo
y hay una ronca
compresión de fuerza sobre fuerza
como en un coito
homérico...
Se abren, finalmente,
con la inofensiva
laxitud del placer satisfecho
y brota,
recién acuñado, como el
oro, el pensamiento.
Tal debe ser
el oculto trabajo del
cerebro,
cuando fija la idea
en el fondo de un
párrafo o en el cuño de un verso.
En: “El palacio en
sombras” (1898-1959)
Fantasmagoria do pesadelo
(Benjamin Burkard:
artista alemão)
Instantâneo
Diante das máquinas
da Imprensa
Rodas enormes
engrenando-se em
silêncio;
alavancas erguendo-se
como braços
de monstros negros e
suados;
um relinchar de
cavalos paralisados
diante da súbita
aparição do mistério;
chapas se abrindo e
fechando, como mandíbulas
que mastigam uma
estrofe em segredo;
enquanto pelas
articulações da máquina circula
o óleo, que é a
sinóvia (*) dos ferros...
O papel cai, fecham-se
as chapas separadas
por um longo bocejo
e há uma compressão
rouca de força sobre força
como num coito
homérico...
Abrem-se, finalmente,
com a inofensiva
lassidão do prazer satisfeito
e brota,
recém-cunhado, como o
ouro, o pensamento.
Tal deve ser
o oculto trabalho do
cérebro,
quando fixa a ideia
no cerne de um
parágrafo ou na índole de um verso.
Em: “O palácio em
sombras” (1898-1959)
Nota:
(*) Sinóvia é um líquido secretado
pelas membranas da superfície das cavidades articulares que lubrifica as
articulações, permitindo-lhes o movimento suave e indolor.
Referência:
MATOS, Luis Palés. Instantánea. In:
__________. Poesía completa y prosa selecta. Edición, prólogo y
cronología por Margot Arce de Vásquez. Reimpresión de la primera edición de
1978. Caracas, VE: Ayacucho, 1988. p. 73. (‘Biblioteca Ayacucho’; v. 32)
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