Transcrito à obra póstuma “O Livro
Derradeiro”, de 1961, do renomado poeta simbolista catarinense, este soneto compõem-se
ora de versos de 6 (seis) sílabas poéticas, ora de 12 (doze), num efeito não
frequentemente observável entre os que compõem quer a obra do próprio autor,
quer o enorme acervo da espécie, presente entre as criações dos poetas da
escola literária da qual tomou parte.
Quanto ao sonho acalentado por Cruz e
Sousa, de triunfo do pendão “tricolor da confraternidade” – alusão às cores da
bandeira francesa, em conjunção ao lema “Liberdade, Igualdade, Fraternidade” −,
longe, mas muito longe mesmo, ainda estamos de qualquer conjuntura que aponte
para igualdade e fraternidade entre os três povos que compuseram o povo pátrio,
no particular em relação aos negros como o próprio poeta: como se costuma
afirmar por estas plagas, ser mulher e negra é o mais infausto dos mundos
possíveis!
J.A.R. – H.C.
Cruz e Sousa
(1861-1898)
Dilema
Vai-se acentuando,
Senhores da justiça — heróis da humanidade,
O verbo tricolor da confraternidade...
E quando, em breve, quando
Raiar o grande dia
Dos largos arrebóis — batendo o preconceito...
O dia da razão, da luz e do direito
− solene trilogia −
Quando a escravatura
Surgir da negra treva − em ondas singulares
De luz serena e pura;
Quando um poder novo
Nas almas derramar os místicos luares,
Então seremos povo!
Em: “O Livro
Derradeiro” (1961)
Morro da Favela
(Tarsila do Amaral:
artista brasileira)
Referência:
SOUSA, Cruz e. Dilema. In: FARIA, Antônio A. M. de; PINTO, Rosalvo Gonçalves (Orgs.). Poemas brasileiros sobre trabalhadores: uma antologia de domínio público. Belo Horizonte, MG: Laboratório de Edição da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (FALE/UFMG), 2011. p. 140. (‘Viva Voz’)
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