A poesia se revela para o falante quase
que como uma terapia, capaz de o levar para além da insensatez do mundo tangível,
lá onde o amor e o sentimento sejam o mar de onde provêm as ondas convertidas
em palavras: memória, percepção, energia, requinte e beleza, numa linguagem evocativa
muitas vezes espiralada sobre si mesma.
O transcendente é a que aspira o poeta,
esperando fugir à camisa de força cerebrina, rica em insumos probantes e
relações de causa e efeito: são os mistérios que dão motivos a se habitar esse páramo
de imaginação, onde fluem formas mil, capazes de desafiar as leis conhecidas da
dinâmica, num ritmo hipnótico que, como nenhum outro, nos ensina a melhor viver!
J.A.R. – H.C.
Carlos Aurélio Soares
Cardoso
(n. 1959)
O que seria viver?
O que seria viver,
Sem a ânsia
De ir sempre além do
tangível?
O que seria sonhar
Sem necessidade
De Amor
E ver flamejar
A cada carícia
A chama ascensional
Do sentimento humano
Em busca de Deus?
De que serviria
tantos paraísos
Tantos versos, tantos
céus,
Sem ouvidos para
ouvi-los,
Sem mentes para
tocá-los?
De que adiantaria
Mergulhar no desconhecido
do Eu
Para trazer de lá,
embriagado,
Esses poemas,
Sem corações
Para recebê-los
E protegê-los
Da insensatez do mundo?
A dança da vida
(Edvard Munch: pintor
norueguês)
Referência:
CARDOSO, Carlos Aurélio Soares. O que
seria viver? In: __________. Janela do nascente: poemas. Rio de Janeiro,
RJ: RPQ Artes Gráficas e Editora, 1981. p. 39.
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