Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 12 de abril de 2020

Rabindranath Tagore - Eu mergulho fundo

Extraído a uma obra cheia de poesia, que, em sua literalidade significa “oferenda de cantos”, este pensamento de Tagore vale como uma nota final para uma vida dedicada a fazer soar as notas do Eterno, aos pés de quem espera poder pousar a sua harpa, agora já em silêncio obsequioso, depois de haver experimentado o “oceano das formas”.

Sobre as formas, aliás, muitos foram os poetas que se dedicaram a apreender-lhes os fundamentos, o processo evolutivo que as preside, a exemplo do persa Jalal ud-Din Rumi (1207-1273), adepto do sufismo e autor do belo poema postado neste blog em meados de 2014, a saber, “A Evolução da Forma”, pleno de referências ao manancial divino de onde as formas proviriam e aos elementos propulsores que nos projetam nessa aparente dualidade de corpo e alma.

J.A.R. – H.C.

Rabindranath Tagore
(1861-1941)

100: Eu mergulho no fundo

Eu mergulho fundo no abismo do oceano das formas,
na esperança de obter a pérola perfeita
daquele que não tem forma.
Não há mais navegar de porto em porto
neste meu barco flagelado pela tempestade.
Foi-se o tempo em que o meu divertimento
era ser embalado pelas ondas.
E agora anseio por morrer dentro do que não morre.
Na sala de audiência, perto do abismo sem fundo
onde floresce a música das cordas sem som,
eu empunharei esta harpa da minha vida.
Eu a modularei pelas notas do eterno;
e quando ela tiver soluçado o seu último segredo,
depositarei aos pés do silencioso a minha harpa silenciosa.

Daqui à eternidade
(Victor Bregeda: pintor russo)

Referência:

TAGORE, Rabindranath. Eu mergulho fundo. Tradução de Guilherme de Almeida. In: __________. Gitanjali. Texto integral. Tradução de Guilherme de Almeida. São Paulo, SP: Martin Claret, 2006. p. 87. (Coleção ‘A obra-prima de cada autor’; v. 207).

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