Extraído a uma obra cheia de poesia, que, em sua literalidade significa “oferenda
de cantos”, este pensamento de Tagore vale como uma nota final para uma vida
dedicada a fazer soar as notas do Eterno, aos pés de quem espera poder pousar a
sua harpa, agora já em silêncio obsequioso, depois de haver experimentado o “oceano
das formas”.
Sobre as formas, aliás, muitos foram os poetas que se dedicaram a apreender-lhes
os fundamentos, o processo evolutivo que as preside, a exemplo do persa Jalal
ud-Din Rumi (1207-1273), adepto do sufismo e autor do belo poema postado neste
blog em meados de 2014, a saber, “A Evolução da Forma”, pleno de referências ao
manancial divino de onde as formas proviriam e aos elementos propulsores que
nos projetam nessa aparente dualidade de corpo e alma.
J.A.R. – H.C.
Rabindranath Tagore
(1861-1941)
100: Eu mergulho no fundo
Eu mergulho fundo no
abismo do oceano das formas,
na esperança de obter
a pérola perfeita
daquele que não tem
forma.
Não há mais navegar
de porto em porto
neste meu barco flagelado
pela tempestade.
Foi-se o tempo em que
o meu divertimento
era ser embalado pelas
ondas.
E agora anseio por
morrer dentro do que não morre.
Na sala de audiência,
perto do abismo sem fundo
onde floresce a
música das cordas sem som,
eu empunharei esta
harpa da minha vida.
Eu a modularei pelas
notas do eterno;
e quando ela tiver
soluçado o seu último segredo,
depositarei aos pés
do silencioso a minha harpa silenciosa.
Daqui à eternidade
(Victor Bregeda:
pintor russo)
Referência:
TAGORE, Rabindranath. Eu mergulho
fundo. Tradução de Guilherme de Almeida. In: __________. Gitanjali. Texto
integral. Tradução de Guilherme de Almeida. São Paulo, SP: Martin Claret, 2006.
p. 87. (Coleção ‘A obra-prima de cada autor’; v. 207).
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