O orvalho noturno bem pode prosperar nas regiões contíguas a um gramado,
mas não tão longe quanto na antena de um estaleiro, onde as “cinco luzes
vermelhas” de um provável sinaleiro, mais parecem um “lupanar”, pois é lá que se
instalam os presumíveis mareantes ou faroleiros, pássaros fabulosos,
silenciosos e ardentes, “muito mais dignos de apreciar o amor”.
A propósito, o formato e o tamanho do poema abaixo destoa, em boa
medida, dos padrões apresentados pelas poesias de Bishop – quase sempre com
algum tamanho expressivo, sem distribuição em estrofes, num tom contínuo e algo
discursivo –, no curso das quais sobressai a elegância de um pensamento multifacetado
e que prima pela coerência.
J.A.R. – H.C.
Elizabeth Bishop
(1911-1979)
Late air
From a magician’s
midnight sleeve
the radio-singers
distribute all their
love-songs
over the dew-wet
lawns.
And like a
fortune-teller’s
their marrow-piercing
guesses are whatever you believe.
But on the Navy Yard
aerial I find
better witnesses
for love on summer
nights.
Five remote lights
keep their nests
there; Phoenixes
burn quietly, where
the dew cannot climb.
In: “North & South” (1946)
Noturno ao Luar
(Charles Melville
Dewey: pintor norte-americano)
Noturno
Da manga escura de um
mágico
os cantores de rádio
espalham canções de
amor
pela grama, sobre o
orvalho noturno.
E preveem para o
futuro,
qual cartomantes, o
que se quiser supor.
Mas na antena do
estaleiro distingo
observadores mais
dignos
de apreciar o amor.
Do alto de seu galho
cinco luzes
vermelhas, remotas,
se aninham; fênix
silenciosas,
ardendo aonde nunca
chega o orvalho.
Em: “Norte & Sul” (1946)
Referência:
BISHOP, Elizabeth. Late air / Noturno.
Tradução de Paulo Henriques Britto. In: __________. Poemas escolhidos de Elizabeth Bishop. Seleção, tradução e textos
introdutórios de Paulo Henriques Britto. Edição bilíngue. 1. ed. São Paulo, SP:
Companhia das Letras, 2012. Em inglês: p. 146; em português: p. 147.
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