Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 6 de abril de 2020

Hermann Hesse - O efêmero

Este poema, escrito quando Hesse tinha 42 anos, revela muito das ideias de autores orientais clássicos, como Du Fu e Li Bai, obviamente nem tanto pela forma, senão pelo tema – o da impermanência das coisas –, essa transitoriedade de nossas vidas, um instante efêmero, fugaz, um “gosto” de morte fomentado pela “mãe eterna” – a denotar permanência, contudo.

Nosso nome, em breve, o vento levará, mas duas imagens remanescem em toda a criação: o instante do nascimento – como a crisálida que se transforma em borboleta, nas belíssimas imagens do filme “Inocência” (1983), de Walter Lima Jr., baseado na obra homônima do Visconde de Taunay (1872) –, e o da morte – a exemplo das imagens distendidas e sublimes do falecimento da genitora do protagonista do filme “Mãe e Filho” (1997), de Aleksandr Sokurov, quando uma borboleta pousa nas mãos de sua mãe, simbolizando um fim de ciclo sobre a terra.

J.A.R. – H.C.

Hermann Hesse
(1877-1962)

Vergänglichkeit

Vom Baum des Lebens fällt
Mir Blatt um Blatt,
O taumelbunte Welt,
Wie machst du satt,
Wie machst du satt und müd,
Wie machst du trunken!
Was heut noch glüht,
Ist bald versunken.
Bald klirrt der Wind
Über mein braunes Grab,
Über das kleine Kind
Beugt sich die Mutter herab.
Ihre Augen will ich wiedersehn,
Ihr Blick ist mein Stern,
Alles andre mag gehn und verwehn,
Alles stirbt, alles stirbt gern.
Nur die ewige Mutter bleibt,
Von der wir kamen,
Ihr spielender Finger schreibt
In die flüchtige Luft unsre Namen.

(Februar 1919)

O Jardim da Morte
(Hugo Simberg: pintor finlandês)

O efêmero

Da árvore da vida cai
Folha em folha sobre mim.
Oh! Vertiginoso mundo colorido,
Como você cansa e entedia.
Como é forte essa embriaguez!
O que hoje ainda brilha
Breve desaparecerá.
Sobre meu sepulcro marrom
Breve o vento rangerá.
Sobre a criancinha a mãe se reclina
Seus olhos eu gostaria de rever,
Seu olhar é minha estrela,
Tudo mais pode ir, desaparecer,
Tudo morre, tudo gosta de morrer.
Só a mãe eterna permanece,
Donde viemos,
Seu dedo leve escreve
Nosso nome ao vento.

(Fevereiro de 1919)

Referências:

Em Alemão

HERMANN, Hesse. Vergänglichkeit. In: __________. Die gedichte. 2. Auflage. Zürich, CH: Fretz & Wasmuth Verlag Ag. Zürich, 1942. s. 284.

Em Português

HESSE, Hermann. O efêmero. Tradução de Ildikó Maria Jávor. In: ________. Caminhada. Tradução de Ildikó Maria Jávor. Com 14 ilustrações do autor. Rio de Janeiro, RJ: Record, 1978. p. 79.

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