Este poema, escrito quando Hesse tinha 42 anos, revela muito das ideias
de autores orientais clássicos, como Du Fu e Li Bai, obviamente nem tanto pela
forma, senão pelo tema – o da impermanência das coisas –, essa transitoriedade
de nossas vidas, um instante efêmero, fugaz, um “gosto” de morte fomentado pela
“mãe eterna” – a denotar permanência, contudo.
Nosso nome, em breve, o vento levará, mas duas imagens remanescem em
toda a criação: o instante do nascimento – como a crisálida que se transforma
em borboleta, nas belíssimas imagens do filme “Inocência” (1983), de Walter
Lima Jr., baseado na obra homônima do Visconde de Taunay (1872) –, e o da morte
– a exemplo das imagens distendidas e sublimes do falecimento da genitora do protagonista do filme “Mãe e Filho” (1997), de Aleksandr Sokurov, quando uma
borboleta pousa nas mãos de sua mãe, simbolizando um fim de ciclo sobre a
terra.
J.A.R. – H.C.
Hermann Hesse
(1877-1962)
Vergänglichkeit
Vom Baum des Lebens
fällt
Mir Blatt um Blatt,
O taumelbunte Welt,
Wie machst du satt,
Wie machst du satt
und müd,
Wie machst du
trunken!
Was heut noch glüht,
Ist bald versunken.
Bald klirrt der Wind
Über mein braunes
Grab,
Über das kleine Kind
Beugt sich die Mutter
herab.
Ihre Augen will ich
wiedersehn,
Ihr Blick ist mein
Stern,
Alles andre mag gehn
und verwehn,
Alles stirbt, alles
stirbt gern.
Nur die ewige Mutter
bleibt,
Von der wir kamen,
Ihr spielender Finger
schreibt
In die flüchtige Luft
unsre Namen.
(Februar 1919)
O Jardim da Morte
(Hugo Simberg: pintor
finlandês)
O efêmero
Da árvore da vida cai
Folha em folha sobre
mim.
Oh! Vertiginoso mundo
colorido,
Como você cansa e
entedia.
Como é forte essa
embriaguez!
O que hoje ainda
brilha
Breve desaparecerá.
Sobre meu sepulcro
marrom
Breve o vento
rangerá.
Sobre a criancinha a
mãe se reclina
Seus olhos eu
gostaria de rever,
Seu olhar é minha
estrela,
Tudo mais pode ir,
desaparecer,
Tudo morre, tudo
gosta de morrer.
Só a mãe eterna
permanece,
Donde viemos,
Seu dedo leve escreve
Nosso nome ao vento.
(Fevereiro de 1919)
Referências:
Em Alemão
HERMANN, Hesse. Vergänglichkeit. In:
__________. Die gedichte. 2.
Auflage. Zürich, CH: Fretz & Wasmuth Verlag Ag. Zürich, 1942. s. 284.
Em Português
HESSE, Hermann. O efêmero. Tradução de
Ildikó Maria Jávor. In: ________. Caminhada.
Tradução de Ildikó Maria Jávor. Com 14 ilustrações do autor. Rio de Janeiro,
RJ: Record, 1978. p. 79.
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