Uma fictícia previsão astrológica para quem nasceu sob o signo de
Sagitário, a recomendar, paradoxalmente, ao aficionado por horóscopos, que se distancie
de todos os horóscopos: o teor espirituoso dos conselhos declinados parece se
pautar pela consabida forma como os astrólogos profissionais se exprimem, em
generalidades que tanto podem apontar para o norte quanto para o sul, ao gosto
do freguês.
Talvez seja por isso que o poeta, depois de linhas a pormenorizar “a
circularidade do círculo”, apresenta-se honesto no derradeiro verso: quanta
verbosidade já se enunciou no âmbito do esoterismo e quanto o sistema do
capital já lançou mão desses dislates místicos, para fazer girar a roda do
lucro, num oportunismo sem par!
J.A.R. – H.C.
Antonio Carlos Secchin
(n. 1952)
Sagitário
Evite excessos na
quarta-feira,
modere a voz, a gula,
a ira.
Saturno conjugado a
Vênus
abre portas de
entrada
e armadilhas de
saída.
Evite apostar em si,
mas, se quiser,
jogue a ficha em
número
próximo do zero.
Evite acordar
o incêndio implícito
de cada fósforo.
E quando nada mais
tiver a evitar
evite todos os
horóscopos.
Sagitário: fantasia
(Josephine Wall:
artista inglesa)
Referência:
SECCHIN, Antonio Carlos. Sagitário. In:
ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS. Antologias
ABL: poesia / ABL’s Anthologies: poems. Idealização e apresentação de Ana
Maria Machado. Organização de Domício Proença Filho e Marco Lucchesi. Edição
bilíngue. Rio de Janeiro, RJ: ABL, 2013. p. 34.
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