Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

terça-feira, 28 de abril de 2020

Robert Hass - A Festa

Aparentemente, o ente lírico faz menção a uma jovem esposa que imagina como organizará a comida sobre uma mesa, a ser servida no deque de sua residência, e como hão de se suceder as coisas numa festa que organizara para os seus amigos e amigas. Mas ela não se sente feliz e começa a chorar na escuridão, logo depois de haver destrinchado o peru: “Ela não sabia o que queria”.

Mas não fique triste, não, minha senhora: vou convidar a prendada Babette, cozinheira francesa das irmãs Martine e Philippa, para preparar um lauto almoço para os seus convivas. Afinal, só de ver as imagens do festim que ela organizou para as irmãs, não há quem não saia das salas de cinema com um desejo imenso de se repimpar até não mais poder.

Já perceberam os leitores que faço alusão à película dinamarquesa “A Festa de Babette”, de 1987, dirigido por Gabriel Axel, que muito recomendo, em função de sua mensagem delicadamente humana, primeiramente pelo acolhimento de Babette pelas irmãs, numa situação que, fossem outras pessoas, seriam levantadas controversas razões para preterição, e depois pela manifestação de gratidão de Babette, que despendeu tudo o que ganhara num sorteio de loteria, para oferecer o aludido banquete às irmãs.

J.A.R. – H.C.

Robert Hass
(n. 1941)

The Feast

The lovers loitered on the deck talking,
the men who were with men and the men who were
with new women,
a little shrill and electric, and the wifely women
who had repose and beautifully lined faces
and coppery skin. She had taken the turkey from the oven
and her friends were talking on the deck
in the steady sunshine. She imagined them
drifting toward the food, in small groups, finishing
sentences, lifting a pickle of a sliver of turkey,
nibbling a little with unconscious pleasure. And
she imagined setting it out artfully, the white meat,
the breads, antipasto, the mushrooms and salad
arranged down the oak counter cleanly, and how they
all came
as in a dance when she called them. She carved meat
and then she was crying. Then she was in darkness
crying. She didn’t know what she wanted.

A Festa de Ester
(Frans Francken, o Jovem: pintor flamengo)

A Festa

Os amantes rondavam o deque a conversar,
os homens que estavam com homens e os homens que
estavam com mulheres novas,
um pouco estridentes e elétricas, e as mulheres casadas
em gozo de repouso, rostos belamente alinhados
e  pele acobreada. Ela havia retirado o peru do forno
e suas amigas parolavam no deque
sob a intrêmula luz do sol. Ela os imaginava
amontoando-se em direção à comida, em pequenos grupos,
finalizando proposições, levantando uma porção de uma
fatia de peru,
mordiscando um pouco com um inconsciente prazer. E
idealizava arrumá-la artisticamente, a carne branca,
os pães, o antepasto, os cogumelos e a salada
dispostos no balcão de carvalho com capricho, e como
todos vinham
como que em uma dança quando os chamava. Ela havia trinchado
a carne e logo pôs-se a chorar. Estava ela então chorando
na escuridão. Ela não sabia o que queria.

Referência:

HASS, Robert. The feast. In: KEILLOR, Garrison (Selector and Introducer). Good poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 261.

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