Aparentemente, o ente lírico faz menção a uma jovem esposa que imagina
como organizará a comida sobre uma mesa, a ser servida no deque de sua
residência, e como hão de se suceder as coisas numa festa que organizara para
os seus amigos e amigas. Mas ela não se sente feliz e começa a chorar na
escuridão, logo depois de haver destrinchado o peru: “Ela não sabia o que
queria”.
Mas não fique triste, não, minha senhora: vou convidar a prendada
Babette, cozinheira francesa das irmãs Martine e Philippa, para preparar um
lauto almoço para os seus convivas. Afinal, só de ver as imagens do festim que
ela organizou para as irmãs, não há quem não saia das salas de cinema com um
desejo imenso de se repimpar até não mais poder.
Já perceberam os leitores que faço alusão à película dinamarquesa “A
Festa de Babette”, de 1987, dirigido por Gabriel Axel, que muito recomendo, em função
de sua mensagem delicadamente humana, primeiramente pelo acolhimento de Babette
pelas irmãs, numa situação que, fossem outras pessoas, seriam levantadas controversas
razões para preterição, e depois pela manifestação de gratidão de Babette, que
despendeu tudo o que ganhara num sorteio de loteria, para oferecer o aludido banquete às
irmãs.
J.A.R. – H.C.
Robert Hass
(n. 1941)
The Feast
The lovers loitered
on the deck talking,
the men who were with
men and the men who were
with new women,
a little shrill and
electric, and the wifely women
who had repose and
beautifully lined faces
and coppery skin. She
had taken the turkey from the oven
and her friends were
talking on the deck
in the steady
sunshine. She imagined them
drifting toward the
food, in small groups, finishing
sentences, lifting a
pickle of a sliver of turkey,
nibbling a little
with unconscious pleasure. And
she imagined setting
it out artfully, the white meat,
the breads,
antipasto, the mushrooms and salad
arranged down the oak
counter cleanly, and how they
all came
as in a dance when
she called them. She carved meat
and then she was
crying. Then she was in darkness
crying. She didn’t
know what she wanted.
A Festa de Ester
(Frans Francken, o
Jovem: pintor flamengo)
A Festa
Os amantes rondavam o
deque a conversar,
os homens que estavam
com homens e os homens que
estavam com mulheres
novas,
um pouco estridentes
e elétricas, e as mulheres casadas
em gozo de repouso,
rostos belamente alinhados
e pele acobreada. Ela havia retirado o peru do
forno
e suas amigas parolavam
no deque
sob a intrêmula luz
do sol. Ela os imaginava
amontoando-se em
direção à comida, em pequenos grupos,
finalizando
proposições, levantando uma porção de uma
fatia de peru,
mordiscando um pouco
com um inconsciente prazer. E
idealizava arrumá-la
artisticamente, a carne branca,
os pães, o antepasto,
os cogumelos e a salada
dispostos no balcão
de carvalho com capricho, e como
todos vinham
como que em uma dança
quando os chamava. Ela havia trinchado
a carne e logo pôs-se
a chorar. Estava ela então chorando
na escuridão. Ela não
sabia o que queria.
Referência:
HASS, Robert. The feast. In: KEILLOR,
Garrison (Selector and Introducer). Good
poems. New York, NY: Penguin Books, 2003. p. 261.
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