Bilac, o nosso poeta-mor do Parnasianismo, tece loas à música brasileira,
ela que é a consectária das manifestações artísticas das três grandes raças que
formaram o povo brasileiro – o negro, o índio e o português –, segundo o vate, “três
raças tristes”, submersas em nostalgias, paixões, banzo, lascívia e saudades.
Para quem já tem algumas décadas de vida, poderá se lembrar do samba “Canto das Três Raças”, de autoria do compositor Paulo César Pinheiro – que foi
esposo, enquanto ela esteve viva, da cantora Clara Nunes (1942-1983) –,
exatamente com a mesma temática do soneto de Bilac: o canto deste povo soa
apenas como um “soluçar de dor”.
J.A.R. – H.C.
Olavo Bilac
(1865-1918)
Música Brasileira
Tens, às vezes, o
fogo soberano
Do amor: encerras na
cadência, acesa
Em requebros e
encantos de impureza,
Todo o feitiço do
pecado humano.
Mas, sobre essa
volúpia, erra a tristeza
Dos desertos, das
matas e do oceano:
Bárbara poracé, banzo
africano,
E soluços de trova
portuguesa.
És samba e jongo,
xiba e fado, cujos
Acordes são desejos e
orfandades
De selvagens, cativos
e marujos:
E em nostalgias e
paixões consistes,
Lasciva dor, beijo de
três saudades,
Flor amorosa de três
raças tristes.
Em: “Tarde” (1919)
Frevo
(Cândido Portinari:
pintor brasileiro)
Referência:
BILAC, Olavo. Música brasileira. In:
BARBOSA, Frederico (Organizador). Cinco
séculos de poesia: antologia da poesia clássica brasileira. 4. ed. São
Paulo, SP: Aquariana, 2011. p. 278.
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