Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

domingo, 5 de abril de 2020

Olavo Bilac - Música Brasileira

Bilac, o nosso poeta-mor do Parnasianismo, tece loas à música brasileira, ela que é a consectária das manifestações artísticas das três grandes raças que formaram o povo brasileiro – o negro, o índio e o português –, segundo o vate, “três raças tristes”, submersas em nostalgias, paixões, banzo, lascívia e saudades.

Para quem já tem algumas décadas de vida, poderá se lembrar do samba “Canto das Três Raças”, de autoria do compositor Paulo César Pinheiro – que foi esposo, enquanto ela esteve viva, da cantora Clara Nunes (1942-1983) –, exatamente com a mesma temática do soneto de Bilac: o canto deste povo soa apenas como um “soluçar de dor”.

J.A.R. – H.C.

Olavo Bilac
(1865-1918)

Música Brasileira

Tens, às vezes, o fogo soberano
Do amor: encerras na cadência, acesa
Em requebros e encantos de impureza,
Todo o feitiço do pecado humano.

Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza
Dos desertos, das matas e do oceano:
Bárbara poracé, banzo africano,
E soluços de trova portuguesa.

És samba e jongo, xiba e fado, cujos
Acordes são desejos e orfandades
De selvagens, cativos e marujos:

E em nostalgias e paixões consistes,
Lasciva dor, beijo de três saudades,
Flor amorosa de três raças tristes.

Em: “Tarde” (1919)
  
Frevo
(Cândido Portinari: pintor brasileiro)
  
Referência:

BILAC, Olavo. Música brasileira. In: BARBOSA, Frederico (Organizador). Cinco séculos de poesia: antologia da poesia clássica brasileira. 4. ed. São Paulo, SP: Aquariana, 2011. p. 278.

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