Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 4 de abril de 2020

Theodore Roethke - A Casa Aberta

O poeta afirma que nem precisa lançar mão da palavra para revelar os seus segredos, pois eles seriam tão ostensivos quanto um “brado retumbante”, tanto mais que a transparência de seu espírito permite que se o veja até o nível dos ossos. Tal é o sentido do título do poema – uma casa aberta –, com portas e janelas escancaradas, para que todos sejam capazes de vislumbrar o que se passa lá dentro.

Mas há um certo conflito na psique de Roethke, pois de outro modo não repetiria a palavra ira, ou seus sinônimos, algumas tantas vezes ao longo do poema, afirmando-nos que ela ainda há de perdurar, como se fosse uma alma em brasas a evolar no espaço e no tempo, mesmo que com toda a sobriedade: “um épico dos olhos!”.

J.A.R. – H.C.

Theodore Roethke
(1908-1963)

Open House

My secrets cry aloud.
I have no need for tongue.
My heart keeps open house,
My doors are widely swung.
An epic of the eyes
My love, with no disguise.

My truths are all foreknown,
This anguish self-revealed.
I’m naked to the bone,
With nakedness my shield.
Myself is what I wear:
I keep the spirit spare.

The anger will endure,
The deed will speak the truth
In language strict and pure.
I stop the lying mouth:
Rage warps my clearest cry
To witless agony.

Moça lendo uma carta
perto de uma janela aberta
(Johannes Vermeer: pintor holandês)

A Casa Aberta

Meus segredos bradam ruidosamente.
Nem preciso de os expor pela língua.
Meu coração mantém a casa aberta,
Minhas portas amplamente se abrem.
Um épico dos olhos,
Meu amor, sem nenhum disfarce.

Minhas verdades são todas conhecidas,
Esta angústia a si mesma revelada.
Estou nu até os ossos,
Minha nudez serve-me de escudo.
Eu mesmo é com o que me trajo:
Mantenho sóbrio o espírito.

A ira há de perdurar,
Os atos dirão a verdade
Em estrita e pura linguagem.
Refreio os lábios mendazes:
A fúria deforma o meu grito mais claro
A uma insensata agonia.

Referência:

ROETHKE, Theodore. Open house. In: GRAY, Richard (Ed.). American poetry of the twentieth century. 1st. publ. Cambridge (EN); New York (NY); Melbourne (AU): Cambridge University Press, 1976. p. 128-129.

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