O poeta afirma que nem precisa lançar mão da palavra para revelar os
seus segredos, pois eles seriam tão ostensivos quanto um “brado retumbante”, tanto
mais que a transparência de seu espírito permite que se o veja até o nível dos
ossos. Tal é o sentido do título do poema – uma casa aberta –, com portas e
janelas escancaradas, para que todos sejam capazes de vislumbrar o que se passa
lá dentro.
Mas há um certo conflito na psique de Roethke, pois de outro modo não repetiria
a palavra ira, ou seus sinônimos, algumas tantas vezes ao longo do poema,
afirmando-nos que ela ainda há de perdurar, como se fosse uma alma em brasas a evolar
no espaço e no tempo, mesmo que com toda a sobriedade: “um épico dos olhos!”.
J.A.R. – H.C.
Theodore Roethke
(1908-1963)
Open House
My secrets cry aloud.
I have no need for
tongue.
My heart keeps open house,
My doors are widely
swung.
An epic of the eyes
My love, with no
disguise.
My truths are all
foreknown,
This anguish
self-revealed.
I’m naked to the
bone,
With nakedness my
shield.
Myself is what I
wear:
I keep the spirit
spare.
The anger will endure,
The deed will speak
the truth
In language strict
and pure.
I stop the lying
mouth:
Rage warps my
clearest cry
To witless agony.
Moça lendo uma carta
perto de uma janela aberta
(Johannes Vermeer:
pintor holandês)
A Casa Aberta
Meus segredos bradam
ruidosamente.
Nem preciso de os expor
pela língua.
Meu coração mantém a
casa aberta,
Minhas portas amplamente
se abrem.
Um épico dos olhos,
Meu amor, sem nenhum
disfarce.
Minhas verdades são
todas conhecidas,
Esta angústia a si
mesma revelada.
Estou nu até os
ossos,
Minha nudez serve-me
de escudo.
Eu mesmo é com o que
me trajo:
Mantenho sóbrio o
espírito.
A ira há de perdurar,
Os atos dirão a
verdade
Em estrita e pura
linguagem.
Refreio os lábios
mendazes:
A fúria deforma o meu
grito mais claro
A uma insensata
agonia.
Referência:
ROETHKE, Theodore. Open house. In:
GRAY, Richard (Ed.). American poetry of
the twentieth century. 1st. publ. Cambridge (EN); New York (NY); Melbourne
(AU): Cambridge University Press, 1976. p. 128-129.
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