Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sábado, 11 de abril de 2020

Waldir Ribeiro do Val - Dai-me, Senhor

O poeta de Ariranha (SP) invoca o Senhor, para que Ele sempre lhe traga a “graça da poesia”, essa espécie de flor que já beira a extinção, de modo a poder surpreendê-la sempre nova e despercebida nas coisas ao seu redor, como uma borboleta esquiva e impalpável, levando-a a manifestar-se num milagre sob a forma de versos.

A enorme quantidade de poemas que apresentam por título “Ars Poetica”, muitos dos quais neste blog transcritos, diz muito sobre a natureza quase imperscrutável da poesia, pois não está ela circunscrita a meras regras formais, senão que, a cada verso grafado no papel, revela-se numa combinação de palavras sempre a comportar novos sentidos – os metapoéticos inclusive.

J.A.R. – H.C.

Waldir Ribeiro do Val
(n. 1928)

Dai-me, Senhor

Que eu não precise subir montanhas,
tocar o céu, correr o mundo
em busca da espécie extinta:
dai-me, Senhor, a graça da poesia.

Que ela desperte, orvalhada
como a flor da noite na aurora,
e eu a surpreenda nova e despercebida
nas coisas a meu redor.

Nada mais quero senão essa inconstante,
fugidia e às vezes invisível borboleta.
Que eu a possa sentir como um milagre,
a poesia que está em todas as coisas.

O velho guitarrista cego
(Pablo Picasso: pintor espanhol)

Referência:

VAL, Waldir Ribeiro do. Dai-me, Senhor. In: __________. 50 poemas escolhidos pelo autor. Rio de Janeiro, RJ: Edições Galo Branco, 2008. p. 9. (Coleção ‘50 poemas escolhidos pelo autor’; v. 50)

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