O poeta de Ariranha (SP) invoca o Senhor, para que Ele sempre lhe traga
a “graça da poesia”, essa espécie de flor que já beira a extinção, de modo a
poder surpreendê-la sempre nova e despercebida nas coisas ao seu redor, como
uma borboleta esquiva e impalpável, levando-a a manifestar-se num milagre sob a
forma de versos.
A enorme quantidade de poemas que apresentam por título “Ars Poetica”,
muitos dos quais neste blog transcritos, diz muito sobre a natureza quase imperscrutável
da poesia, pois não está ela circunscrita a meras regras formais, senão que, a
cada verso grafado no papel, revela-se numa combinação de palavras sempre a
comportar novos sentidos – os metapoéticos inclusive.
J.A.R. – H.C.
Waldir Ribeiro do Val
(n. 1928)
Dai-me, Senhor
Que eu não precise
subir montanhas,
tocar o céu, correr o
mundo
em busca da espécie
extinta:
dai-me, Senhor, a
graça da poesia.
Que ela desperte,
orvalhada
como a flor da noite
na aurora,
e eu a surpreenda
nova e despercebida
nas coisas a meu
redor.
Nada mais quero senão
essa inconstante,
fugidia e às vezes
invisível borboleta.
Que eu a possa sentir
como um milagre,
a poesia que está em
todas as coisas.
O velho guitarrista cego
(Pablo Picasso:
pintor espanhol)
Referência:
VAL, Waldir Ribeiro do. Dai-me, Senhor.
In: __________. 50 poemas escolhidos
pelo autor. Rio de Janeiro, RJ: Edições Galo Branco, 2008. p. 9. (Coleção
‘50 poemas escolhidos pelo autor’; v. 50)
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