Neste poema de “Harmonium” (1923), Stevens tenta ampliar, através da
imaginação, o escopo e os limites do que constitui o próprio “eu” – inclusive a
projeção religiosa, haja vista que são os seus “ouvidos” que são capazes de
criar os “hinos aerofônicos escutados” –, mas exclusive, é claro, o mundo
objetivo que se encontra fora dessa mesma imaginação.
Assim, Hoon, um hipotético potentado, estaria conectado a algo mais
expansivo do que um simples “eu” subjetivo existente no mundo: tudo o que se
vê, sente ou ouve origina-se do “eu mesmo”, parece-me, um mundo quase à parte,
se isso não incorrer, salvo engano, em algum solipsismo. Seja como for, Wallace
julga que em Hoon é que ele se torna mais “verdadeiro”, ainda que também mais
estranho.
J.A.R. – H.C.
Wallace Stevens
(1879-1955)
Tea at the Palaz of Hoon
Not less because in
purple I descended
The western day
through what you called
The loneliest air,
not less was I myself.
What was the ointment
sprinkled on my beard?
What were the hymns
that buzzed beside my ears?
What was the sea
whose tide swept through me there?
Out of my mind the
golden ointment rained,
And my ears made the
blowing hymns they heard.
I was myself the compass
of that sea:
I was the world in
which I walked, and what I saw
Or heard or felt came
not but from myself;
And there I found
myself more truly and more strange.
O Palácio Papal
(Paul Signac: pintor
francês)
Chá no Palaz de Hoon
Não menos porque em
púrpura eu adentrei
O dia ocidental em
meio ao que você veio a chamar
De o ar mais
solitário, era nada menos que eu mesmo.
Qual foi o creme
espalhado em minha barba?
Quais os hinos que
zumbiram junto aos meus ouvidos?
Qual foi o mar cuja
maré me arrastou até lá?
Fora de minha mente o
creme dourado jorrou,
E meus ouvidos
criaram os hinos aerofônicos escutados.
Eu mesmo era a
bússola desse mar:
Eu era o mundo no qual andava, e o que vi,
Ouvi ou senti não
veio senão de mim mesmo;
E lá me encontrei
mais verdadeiro e mais estranho.
Referência:
STEVENS, Wallace. Tea at the Palaz of
Hoon. In: PINSKY, Robert; DIETZ, Maggie (Eds.). American’s favorite poems: the
favorite poem project anthology. New York, NY: W. W. Norton, 2000. p. 257.
❁
Nenhum comentário:
Postar um comentário