Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

quinta-feira, 16 de abril de 2020

Wallace Stevens - Chá no Palaz de Hoon

Neste poema de “Harmonium” (1923), Stevens tenta ampliar, através da imaginação, o escopo e os limites do que constitui o próprio “eu” – inclusive a projeção religiosa, haja vista que são os seus “ouvidos” que são capazes de criar os “hinos aerofônicos escutados” –, mas exclusive, é claro, o mundo objetivo que se encontra fora dessa mesma imaginação.

Assim, Hoon, um hipotético potentado, estaria conectado a algo mais expansivo do que um simples “eu” subjetivo existente no mundo: tudo o que se vê, sente ou ouve origina-se do “eu mesmo”, parece-me, um mundo quase à parte, se isso não incorrer, salvo engano, em algum solipsismo. Seja como for, Wallace julga que em Hoon é que ele se torna mais “verdadeiro”, ainda que também mais estranho.

J.A.R. – H.C.

Wallace Stevens
(1879-1955)

Tea at the Palaz of Hoon

Not less because in purple I descended
The western day through what you called
The loneliest air, not less was I myself.

What was the ointment sprinkled on my beard?
What were the hymns that buzzed beside my ears?
What was the sea whose tide swept through me there?

Out of my mind the golden ointment rained,
And my ears made the blowing hymns they heard.
I was myself the compass of that sea:

I was the world in which I walked, and what I saw
Or heard or felt came not but from myself;
And there I found myself more truly and more strange.

O Palácio Papal
(Paul Signac: pintor francês)

Chá no Palaz de Hoon

Não menos porque em púrpura eu adentrei
O dia ocidental em meio ao que você veio a chamar
De o ar mais solitário, era nada menos que eu mesmo.

Qual foi o creme espalhado em minha barba?
Quais os hinos que zumbiram junto aos meus ouvidos?
Qual foi o mar cuja maré me arrastou até lá?

Fora de minha mente o creme dourado jorrou,
E meus ouvidos criaram os hinos aerofônicos escutados.
Eu mesmo era a bússola desse mar:

Eu era o mundo no qual andava, e o que vi,
Ouvi ou senti não veio senão de mim mesmo;
E lá me encontrei mais verdadeiro e mais estranho.

Referência:

STEVENS, Wallace. Tea at the Palaz of Hoon. In: PINSKY, Robert; DIETZ, Maggie (Eds.). American’s favorite poems: the favorite poem project anthology. New York, NY: W. W. Norton, 2000. p. 257.

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