Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Walt Whitman - O Gracejo das Águias

O ente lírico, decerto ao retornar a casa para descansar, seguindo pela estrada à margem de um rio, observa um casal de águias num jogo de pré-acasalamento, empregando todos os recursos sinestésicos com o objetivo de descrever as piruetas de seus voos num movimento de cima para baixo, até que se enredam por um instante, voltando a alçar voo logo em seguida, uma ao encalço da outra.

A tradução de Luciano Alves Meira atribui à palavra “dalliance” o seu sentido mais imediato – “gracejo”, “brincadeira” –; contudo, para a explícita essência lúbrica que o poema encerra, talvez fosse melhor empregar a palavra “flerte”, “corte”, “namoro”. Afinal, o que deve ter chamado a atenção de Whitman foi ter visto duas aves de uma espécie considerada indômita num raro momento de idílio, ainda que tal idílio exiba – como diríamos? – algo demais impetuoso.

J.A.R. – H.C.

Walt Whitman
(1819-1892)

The Dalliance of the Eagles

Skirting the river road, (my forenoon walk, my rest,)
Skyward in air a sudden muffled sound, the dalliance
of the eagles,
The rushing amorous contact high in space together,
The clinching interlocking claws, a living, fierce,
gyrating wheel,
Four beating wings, two beaks, a swirling mass tight
grappling,
In tumbling turning clustering loops, straight
downward falling,
Till o’er the river pois’d, the twain yet one, a moment’s lull,
A motionless still balance in the air, then parting,
talons loosing,
Upward again on slow-firm pinions slanting, their separate
diverse flight,
She hers, he his, pursuing.

Águia Dourada
(Alan M. Hunt: artista inglês)

O Gracejo das Águias

Seguindo pela estrada, à margem do rio (minha manhã,
meu descanso),
Na direção do céu, um repentino som abafado, o gracejo
das águias,
O rápido contato amoroso, juntas, alto no espaço,
As garras reviradas que se fecham num círculo vivo,
ameaçador, giratório,
Quatro asas batendo, dois bicos, a massa girando
um abraço apertado,
Em voltas cadentes e crescentes, em queda livre,
Até que sobre o rio posicionados, os dois feitos em um,
aquietam-se por um momento,
Um balanço imóvel em pleno ar, depois se separam,
soltando as presas,
Subindo novamente com firmes vagarosas asas oblíquas,
seus voos independentes e distintos,
Ela o dela, ele o dele, procurando.

Referências:

Em Inglês

WHITMAN, Walt. The dalliance of the eagles. In: KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems for hard times. New York, NY: Penguin Books, 2006. p. 72.

Em Português

WHITMAN, Walt. O gracejo das águias. Tradução de Luciano Alves Meira. In: __________. Folhas de relva. Texto integral. Tradução e introdução de Luciano Alves Meira. 2. ed. São Paulo (SP): Martin Claret, 2012. p. 277-278. (Série Ouro: Coleção A Obra-Prima de Cada Autor, n. 42)

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