O ente lírico, decerto ao retornar a casa para descansar, seguindo pela
estrada à margem de um rio, observa um casal de águias num jogo de
pré-acasalamento, empregando todos os recursos sinestésicos com o objetivo de
descrever as piruetas de seus voos num movimento de cima para baixo, até que se
enredam por um instante, voltando a alçar voo logo em seguida, uma ao encalço da outra.
A tradução de Luciano Alves Meira atribui à palavra “dalliance” o seu
sentido mais imediato – “gracejo”, “brincadeira” –; contudo, para a explícita
essência lúbrica que o poema encerra, talvez fosse melhor empregar a palavra “flerte”,
“corte”, “namoro”. Afinal, o que deve ter chamado a atenção de Whitman foi ter
visto duas aves de uma espécie considerada indômita num raro momento de idílio,
ainda que tal idílio exiba – como diríamos? – algo demais impetuoso.
J.A.R. – H.C.
Walt Whitman
(1819-1892)
The Dalliance of the Eagles
Skirting the river
road, (my forenoon walk, my rest,)
Skyward in air a
sudden muffled sound, the dalliance
of the eagles,
The rushing amorous
contact high in space together,
The clinching
interlocking claws, a living, fierce,
gyrating wheel,
Four beating wings,
two beaks, a swirling mass tight
grappling,
In tumbling turning
clustering loops, straight
downward falling,
Till o’er the river
pois’d, the twain yet one, a moment’s lull,
A motionless still
balance in the air, then parting,
talons loosing,
Upward again on
slow-firm pinions slanting, their separate
diverse flight,
She hers, he his,
pursuing.
Águia Dourada
(Alan M. Hunt:
artista inglês)
O Gracejo das Águias
Seguindo pela
estrada, à margem do rio (minha manhã,
meu descanso),
Na direção do céu, um
repentino som abafado, o gracejo
das águias,
O rápido contato
amoroso, juntas, alto no espaço,
As garras reviradas que
se fecham num círculo vivo,
ameaçador, giratório,
Quatro asas batendo,
dois bicos, a massa girando
um abraço apertado,
Em voltas cadentes e
crescentes, em queda livre,
Até que sobre o rio
posicionados, os dois feitos em um,
aquietam-se por um
momento,
Um balanço imóvel em
pleno ar, depois se separam,
soltando as presas,
Subindo novamente com
firmes vagarosas asas oblíquas,
seus voos
independentes e distintos,
Ela o dela, ele o
dele, procurando.
Referências:
Em Inglês
WHITMAN, Walt. The dalliance of the
eagles. In: KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems for hard times. New York,
NY: Penguin Books, 2006. p. 72.
Em Português
WHITMAN, Walt. O gracejo das águias. Tradução
de Luciano Alves Meira. In: __________. Folhas
de relva. Texto integral. Tradução e introdução de Luciano Alves Meira. 2.
ed. São Paulo (SP): Martin Claret, 2012. p. 277-278. (Série Ouro: Coleção A
Obra-Prima de Cada Autor, n. 42)
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