Alpes Literários

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UM PASSEIO PELOS ALPES LITERÁRIOS

sexta-feira, 10 de abril de 2020

Maxine Kumin - Depois do Amor

A poetisa não emprega, no título do poema, a expressão “sexo”, mas “amor”, talvez com isso querendo sublinhar que a induvidosa pós-relação sexual a que se refere nos versos dá-se no âmbito de um relacionamento mais estável, melhor dizendo, não casual, mas que, ainda assim, já exibe algum sinal de cansaço.

Os amantes já não procuram se afagar “depois do amor”, preferindo cada qual ocupar o seu lado da cama e dormir, isto é, um deles – com mais propriedade no caso –, a quem o ente lírico se refere como alguém que aporta o seu lado “lobo” nas exterioridades do ser: talvez seja melhor assim do que ter de ouvir palavras incômodas...

J.A.R. – H.C.

Maxine Kumin
(1925-2014)

After Love

Afterward, the compromise.
Bodies resume their boundaries.

These legs, for instance, mine.
Your arms take you back in.

Spoons of our fingers, lips
admit their ownership.

The bedding yawns, a door
blows aimlessly ajar

and overhead, a plane
singsongs coming down.

Nothing is changed, except
there was a moment when

the wolf, the mongering wolf
who stands outside the self

lay lightly down, and slept.

O Leito
(Henri de Toulouse-Lautrec: pintor francês)

Depois do Amor

Mais tarde, o compromisso.
Os corpos reassumem suas fronteiras.

Estas pernas, por exemplo, são minhas.
Teus braços tomam-te de volta.

Afagos de nossos dedos, lábios
consentem em sua posse.

A roupa de cama boceja, uma porta
entreaberta agita-se vagamente

e, no alto, um avião entoa
um recital monótono ao descer.

Nada mudou, exceto que
houve um momento durante o qual

o lobo, o lobo feroz
que se mantém fora do ser,

recostou-se ligeiramente e adormeceu.

Referência:

KUMIN, Maxine. After love. In: KEILLOR, Garrison (Selection and Introduction). Good poems for hard times. New York, NY: Penguin Books, 2006. p. 73.

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