A poetisa não emprega, no título do poema, a expressão “sexo”, mas “amor”,
talvez com isso querendo sublinhar que a induvidosa pós-relação sexual a que se
refere nos versos dá-se no âmbito de um relacionamento mais estável, melhor
dizendo, não casual, mas que, ainda assim, já exibe algum sinal de cansaço.
Os amantes já não procuram se afagar “depois do amor”, preferindo cada
qual ocupar o seu lado da cama e dormir, isto é, um deles – com mais
propriedade no caso –, a quem o ente lírico se refere como alguém que aporta
o seu lado “lobo” nas exterioridades do ser: talvez seja melhor assim do que
ter de ouvir palavras incômodas...
J.A.R. – H.C.
Maxine Kumin
(1925-2014)
After Love
Afterward, the
compromise.
Bodies resume their
boundaries.
These legs, for instance,
mine.
Your arms take you
back in.
Spoons of our
fingers, lips
admit their
ownership.
The bedding yawns, a
door
blows aimlessly ajar
and overhead, a plane
singsongs coming
down.
Nothing is changed,
except
there was a moment
when
the wolf, the
mongering wolf
who stands outside
the self
lay lightly down, and
slept.
O Leito
(Henri de
Toulouse-Lautrec: pintor francês)
Depois do Amor
Mais tarde, o compromisso.
Os corpos reassumem suas
fronteiras.
Estas pernas, por
exemplo, são minhas.
Teus braços tomam-te de
volta.
Afagos de nossos
dedos, lábios
consentem em sua
posse.
A roupa de cama
boceja, uma porta
entreaberta agita-se
vagamente
e, no alto, um avião
entoa
um recital monótono ao
descer.
Nada mudou, exceto
que
houve um momento
durante o qual
o lobo, o lobo feroz
que se mantém fora do
ser,
recostou-se
ligeiramente e adormeceu.
Referência:
KUMIN, Maxine. After love. In: KEILLOR,
Garrison (Selection and Introduction). Good
poems for hard times. New York, NY: Penguin Books, 2006. p. 73.
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