O poeta se mira em outros artistas, quer da palavra, quer da música,
quer ainda do cinema e do teatro, para avocar situações que são bem terra a
terra, que em nada apontam para um horizonte de eternidade a que tanto ele ousadamente
aspira, ainda que limitado, conforme sua própria elocução, a “caneta, papel e
dois tostões de poesia”.
É que o seu mister artístico é bem mais amplo, beirando o infinito: um
desassombro que o faz sonhar com o Olimpo da poesia, lá onde já se fixaram
nomes que cintilam aos olhos dos simples mortais: Dante, Shakespeare, Camões,
Pessoa, Whitman, Borges, Drummond e muitos outros. Logrará sucesso o autor em
sua busca de prestígio?
J.A.R. – H.C.
Paulo José Cunha
(n. 1951)
O Infinito
Tomei por arte
a pretensão do
infinito
e uma ousada
aspiração de eternidade
Mas vejo Hemingway
os dois canos da
espingarda na boca
Villa-Lobos passando
giz no taco de bilhar
Picasso segurando
aquela sombrinha
A mão ingênua de
Pasolini apoiando o queixo
Rimbaud traficando
armas na África
Fellini de pés
descalços numa praia de Rimini
E eu aqui: caneta,
papel
e dois tostões de
poesia
O infinito é maior
O Reconhecimento sem fim
(René Magritte:
pintor belga)
Referência:
CUNHA, Paulo José. O infinito. In:
MENEZES DE MORAIS, José (Org.), Mais
uns: coletivo de poetas. Brasília, DF: Compukromus, 1997. p. 160.
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